quarta-feira, 13 de agosto de 2008

LÚCIFER NÃO É O DIABO.


Um título como este que a primeira impressão parece polêmico e até herético, precisa de algumas explicações. A palavra Lúcifer provém do latim lux, lucis, luz e ferre, "portador". Traduz-se literalmente como portador da luz.

Esta palavra não aparece nas versões das bíblias em português, e sim na VULGATA tradução de JERÔNIMO da bíblia grega (ou Septuaginta/versão dos Setenta), onde a expressão "estrela da manhã" foi traduzida para heõsphoros ( portador da luz ), por isso JERÔNIMO traduz para o latim Luficer.
"Quomodo cecidisti de caelo, lucifer, fili aurorae? Deiectus es in terram, qui deiciebas gentes,"(Isaiae 14:12).1 "Os Padres interpretaram que a queda da "estrela d'alva"(Vulgata/lucifer) como a do príncipe dos demônios é possível que esta interpretação já se fazia desde do terceiro século".2 O problema desta interpretação surge quando não se usa princípios hermenêuticos e exegéticos para uma equilibrada interpretação do texto bíblico.
Nos textos de ISAÍAS no capítulo 14 trarão aspectos que precisam ser compreendidos para fazer uma boa interpretação. Abaixo irei analisar versículo por versículo até chegar no texto que aparece a palavra "lucifer" (estrela da manhã), e fechando na perícope do capítulo.

Para mim era suficiente o título no inicio do capítulo 13 que aparece em nossas bíblias "Oráculo acerca de Babilônia". O capítulo 14 é uma continuação do 13, e no capítulo 14 que aparece a expressão "estrela da manhã" (Lúcifer), quero-lhe fazer uma pergunta como o texto estaria trançando profecias para Babilônia e depois para o rei da mesma no capítulo 14 ("Proferiras este provérbio contra o rei da Babilônia" Is.14:4) e faria um interrupção e começaria a falar do Diabo?

ISAÍAS 143

1. Porque o Senhor se compadecerá de Jacó, ainda voltará a escolher Israel, e os estabelecerá em sua própria terra; o estrangeiro se unirá a ele, e ajuntar-se-ão à casa de Jacó.
Comentário: Este versículo é uma promessa do Senhor para Israel da libertação do cativeiro e o retorno para a Palestina sua terra. Nesta parte é dada, para queda da Babilônia, outra razão além do seu pecado, que é o amor de Yahweh4 por seu povo.
O seu amor de eleição continua a ser estendido para Israel, que é o nome destinado de forma específica ao povo que iria ser deportado para Babilônia, ou seja, Judá.5
2. Os povos os tomarão e os levarão a seus lugares; e a casa de Israel possuirá esses povos por servos e servas, na terra do Senhor. Cativaram aquele que os cativaram, e dominarão seus opressores.
Comentário: O texto está dizendo que no dia da intervenção do Senhor, Israel sairia da posição de dominado para dominador.
Babilônia precisa cair para que Judá pudesse retornar, acontecimento levado a cabo pelo edito de libertação assinado por Ciro. Em Canaã o povo se recuperaria e prosperaria, de forma que até os estrangeiros sentiriam ímpetos de se incorporarem a Israel. Por ocasião da volta de Israel, as nações oferecerão os seus serviços (cf. 11.12) e, de fato, serão para eles como servos e servas n o território santo de Yahweh. Israel conservará os seus próprios captores em cativeiros, e desta forma governará sobre os seus opressores.6
3. E sucederá, no dia que o Senhor te der descanso de teu labor,de tua inquietação, e de tua dura servidão, a qual te fizeram servir.
4. Proferiras este provérbio contra o rei da Babilônia, e dirás: Como cessou o opressor! Como acabou a tirania.
Comentário:Estes versículos fazem referência ao descanso que Yahweh daria das aflições do exílio que levará a um cântico de triunfo. É um cântico zombeiro a respeito do rei da Babilônia, que está caído. Naturalmente esse cântico, como de fato toda a profecia, tem em vista acontecimentos dentro de um contexto que se passavam as coisas. 7
Este dois versículos são fundamentais para compreender o texto, resumidamente o texto está dizendo que quando Israel for libertado das mãos opressoras do Rei da BABILÔNIA que possivelmente era NABUCODONOSOR, eles iriam proferir um provérbio, em outras versões aparece POEMA e até SÁTIRA. Então a partir deste texto todos os versículos seguintes até o versículo 23 vão tratar de juízos de Deus contra o rei da Babilônia e a própria Babilônia. E dentro deste contexto aparece os versículos que por séculos vem sendo mal interpretado por muitos, que atribuem a queda do diabo do céu.


"Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste atirado à terra, vencedor das nações. E tu dizia em teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus ( ou deuses) colocarei meu trono, no monte da assembleia me assentarei, nas extremidade norte; Subirei acima das alturas das nuvens, e me tornarei semelhante ao Altíssimo". Contudo, serás levado para o Seol, ao mais profundo do abismo. (Is.14:12-15).

5. O Senhor quebrou a vara dos perversos, e o cetro dos dominadores,
Comentário: O versículo fala do fim do governante que atormentava as nação como um feitor de escravos, dando fim a opressão. Yahweh quebrou a vara com que os ímpios governantes de Babilônia.8
6. Que feria os povos com furor, com golpes intermináveis, que com ira dominava as nações, com perseguição sem cessar.
Comentário: Aqui cita a crueldade com que agia o império babilônico quando assolava as nações antigas, como açoitavam as nações e as subjugavam com opressão sem tréguas.
7. Toda a terra descansa; está sossegada! Todos os povos exclamam com júbilo.
Comentário: Neste versículo cita a tranquilidade que as nações oprimidas iriam gozar com a queda do REI.
8. Também os ciprestes se alegram sobre ti, e os cedros do Líbano dizem: Desde que tu caíste, ninguém sobe contra nós para nos cortar.
Comentário: Faz uma referência a prática de BABILÔNIA de importação de MADEIRA, possivelmente cortados por motivos de guerra, e para edificar palácios, pois os reis babilônicos, como os reis assírios antes deles estavam acostumados a fazê-lo (como o revelam as inscrições de Nabucodonosor encontradas na encosta oriental do Monte Líbano)9 com a queda do REI até os ciprestes iriam descansar.
9. O seol desde o profundo se agita por ti, para vir o teu encontro; ele despertou por ti, para vir a teu encontro; ele despertou por ti os mortos, e todos os príncipes da terra, e fez levantar de seus tronos todos os que eram reis das nações.
Comentário: Neste trecho faz uma declaração que todos aguardavam a queda do REI inclusive o Seol (habitação dos mortos).
Este ponto sobre o Seol deve-se levar em conta o caráter explicitamente poético desta profecia. Toda a descrição do encontro entre o espírito do rei babilônico com outros espectros semelhantes é pura poesia.
10. Todos estes respondem, e te dizem: Tu também, como nós, estás fraco? E torna semelhante a nós?
Comentário: Aqui faz uma ironia através de perguntas a respeito da perca do PODER do REI.
O profundo silêncio, que em outros prevalece no reino dos mortos, é agora quebrado pela sua aproximação; os espectros são levantados do seu sono. São os reis que outrora haviam dirigido as nações da maneira como o bode guia o rebanho. Eles são apresentados, a princípio, sentados em seus tronos, depois levantando-se à chegada do governante babilônico, cuja vinda os enche de admiração e perverso deleite, visto que muitos deles haviam sido roubados por ele, de seus tronos e de suas vidas. Neste espírito eles gritam para ele, dizendo que se tornou inofensivo como eles.10
11. Tua soberba foi derrubada no Seol, e o som das tuas harpas; os vermes debaixo de ti se estendem, e os bichos te cobrem.
Comentário: Aqui mas uma vez faz referência o lançamento, para o mundo dos mortos, e chegou ao fim toda a sua pompa e deleite festivo. Em vez de artísticos tapetes babilônicos, gusanos agora formam a sua cama, e vermes a sua coberta; ele precisa deitar no chão. (É fácil compreender que o quadro do Seol e o do túmulo não são claramente separados).11
12. Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste atirado à terra, vencedor das nações.
Comentário: Aqui começa o problema abordado nesta matéria. O texto no inicio do capítulo começa falando do Rei da BABILÔNIA e derrepente começa a falar do DIABO? Toda profecia, promessa, instrução, mandamento, ordem, orientação na bíblia é feito dentro de um contexto ou seja uma situação que o povo de Deus estava vivendo, o contexto aqui é claro a QUEDA DO REI DA BABILÔNIA, A SABER NABUCODONOSOR.. Alguns até admitem que o texto não fala sobre o diabo, mas por analogia pode ser feito tal referência, a saber ao diabo. Contudo é melhor ficar com a interpretação mais coerente do que analogias.

Mackay afirma que na alusão encontrada em Isaías 14.12-15 há uma versão cananéia do mito grego de Féton, intermediado e influenciado pela cultura fenícia durante a "era heróica". O desenvolvimento da versão cananéia é complexo e tem afinidades com o mito ugarítico que envolve Atar, que foi incapaz de ocupar o trono de Baal. Foi que tentou subir às alturas do céu e, como a estrela da alva, foi condenado a ser sempre lançado no Hades (Sheol). Mesmo que os argumentos de Mackay não sejam aceitos, é importante notar as seguintes peculiaridades filológicas:"o monte da assembléia" (Is 14:13) e o ugarítico ("o monte de LaLa"), onde se reunia o "Corpo Reunido". Tais relações fazem ligação com a montanha dos deuses que é bem conhecida em ugarítico. O DEUS DE ISRAEL está entronizado em Safom, ele reina desde os próprios céus. Qualquer interpretação de Isaías 14 que não leve em conta sua alusão mitológica comete uma injustiça contra o que ali é dito. Poderia ser contraposto pelo fato de utilizar uma mitologia não judaica no texto bíblico, mas não podemos esquecer que é uma citação de um rei babilônico, que naturalmente se vangloriasse de exaltar seu trono acima dos deuses ou acima da montanha onde ele cria que os deuses se reunissem.12





· O PROBLEMA DE INTERPRETAÇÃO também ocorre dentro de um contexto que é a pratica da ALEGORIA para interpretar os textos bíblicos.
O que é ALEGORIA?

Alegoria é um série de comparações que são feitas com o texto bíblico outros chamariam de sentido espiritual do texto.
· Para entender melhor a utilização da ALEGORIA é preciso conhecer um pouco de sua história.
· Resumo da história do método de interpretação alegórico dos judeus pós-babilônicos até Agostinho.
A interpretação judaica

Quanto aos judeus que voltarão da babilônia existem poucas referências do método alegórico, mas a hermenêutica não era das melhores. Entendia-se o texto a partir do que lia.
Mas adiante o Rabino Aquiba (50?-132d.c.), líder de uma escola para rabinos em jaffa, na Palestina, "afirmava que toda repetição, figura, paralelismo, sinonímia palavra, letra, partícula,pleonasmo e, ainda mais, a própria forma da letra possuíam um significado oculto, assim como cada fibra da asa de uma mosca ou pena de uma formiga tem sua importância curiosa."13As escolas rabínicas dão uma certa contribuição para a entrada da ALEGORIA
O Rabino Hillel (70 a.c.?-10 d.c.?) foi um líder proeminete entre os judeus da Palestina. Estabeleceu ainda sete regras para interpretação do Antigo Testamento. Mas com poucas alegoriazações.
Shammai, da mesma época que Hillel, mesmo diferindo muito dele não comete tantas alegorias que será encontrado na teologia alexandrina.

A alegorização judaica.

A alegorização judaica sofreu influências da alegoriração grega. Os filósofos gregos, ao mesmo tempo em que admiravam os antigos escritos gregos de Homero (século IX a.c.) e de Hesíodo (século VIII), ficavam constrangidos com o comportamento imoral e com os antropomorfismos dos deuses imaginários da mitologia grega constantes naquela literatura.
O método da alegorização permitiu que os filósofos gregos que surgiram mais tarde, tais como os estóicos, Querêmon e Cleanto, impulsionavam suas idéias ao mesmo tempo em que se proclamavam fiéis aos escritos antigos.
Os judeus de alexandria, no Egito, foram influênciados pela filosofia grega. Mas também tinham um problema a resolver: como podiam aceitar o Antigo Testamento e também a filosofia grega, especialmente de Platão? A solução foi a mesma encontrada pelos filósofos gregos: alegorizar o Antigo Testamento.
Existem dois nomes de relevo na alegorização judaica de Alexandria: Aristóbulo e Filo. Aristóbulo, que viveu por volta de 160 a.C.,acreditava que a filosofia grega estava baseada no A.T. e que aqueles ensinamentos só podiam ser desvendados mediante alegorização. Filo disse que a alegorização é necessária para evitar as declarações aparentemente impróprias de Deus ou as afirmações aparentemente contraditórias do Antigo Testamento.
A Epístola de Aristéias, escrita por um judeu alexandrino aproximadamente no ano 100 a.C., ilustra a alegorização judaica. Ela afirma que as leis dietéticas realmente ensinavam várias formas de discriminação necessárias à obtenção da virtude e que o processo de ruminação de certos animais simboliza a meditação sobre a vida e a existência.14 O ser humano tem uma tendência natural ao deparar-se com coisas que não tem explicação lógica tende a atribuir ao sobrenatural, isto em matéria de interpretação bíblica não era diferente, contudo a grande contribuição para alegorização bíblica foi alegorização grega.

Os pais da igreja primitiva.

Pouca coisa temos sobre a interpretação dos pais da igreja, o que sei é que todos utilizavam o método da tipologia ou seja mostrando Cristo nas Escrituras do A.T. Isto fazia Clemente de Roma que viveu por volta de 30 a 95 d.C., Inácio de Antioquia da Síria, (35-107).
Um exemplo do método alegórico é a Epístola de Barnabé que cita o A.T. 119 vezes. Também utiliza alegorias constantemente. Exemplo clássico é a menção que Barnabé faz dos 318 servos de Abraão (Gn.14.14). Ele afirmou que existem três letras gregas que representam o número 318 e que cada uma tem um significado.
Os pais da igreja não cometeram grandes alegorias mas logo foram influenciados pela alegorização.
Justino Mártir (100-164) fazia muitas citações das Escrituras em suas obras. Justino afirmava que Lia representava os judeus, Raquel simboliza a igreja e Jacó é Cristo, que serve a ambos.15 A alegorização em Justino é bem forte por causa de sua formação de filósofo, pois o era antes de torna-se cristão.
Irineu morou em Esmirna e em Lião. Ele viveu de 130 a 202 aproximadamente. Ele afirmou, por exemplo, que os três espias (e não dois!) que Raabe escondeu representavam Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.
Tertuliano de Cartago (160-220) interpretou que Gênesis 1.2, que o Espírito pairando sobre as águas, simboliza o batismo, e Cristo estava ensinando por meio de símbolos quando disse que embainhasse a espada. Os 12 apóstolos são simbolizados pelas 12 fontes de água de Elim, pelas 12 pedras preciosas que o sacerdote levava no peitoral e pelas 12 pedras tiradas do rio Jordão.16 Após o ano 100 d.C. a alegorização ficou mais forte ainda.

Os pais alexandrinos e antioquinos.

Os pais alexandrinos.

Panteno, falecido por volta de 190, é o mais antigo mestre da Escola Catequética de Alexandria, no Egito, de que se tem notícia. Ele foi professor de Clemente ( não é o Clemente de Roma).
Clemente em sua execiva alegorização, ensinava que as proibições mosaicas de comer porco, falcão, águia e corvo (Lv 11.7,13-19) representavam respectivamente a ânsia impura pela comida, a injustiça, o roubo e a cobiça.
Orígenes (185-254) mediante a alegorização, ensinava que a arca de Noé simbolizava a igreja e que Noé simbolizava Cristo. O episódio em que Rebeca tirou água do poço para os servos de Abraão significa que devemos recorrer diariamente às Escrituras para ter um encontro com Cristo. Na entrada triunfal de Jesus, a jumenta representa o A.T., o jumentinho o N.T. e os dois apóstolos os aspectos moral e místicos das Escrituras.17
No século I pode ter circulado um apócrifo referindo-se à passagem de Isaías 14:12 como a revolta de Satã e em sua época Orígenes já citava o texto fazendo referencia ao diabo. Sem contar que na mitologia greco-romana Lúcifer, filho de Júpiter e da Aurora, é o chefe ou o condutor de todos os outros astros. É ele quem toma conta dos corcéis e do carro do Sol, que atrela e desatrela com as horas. É reconhecido pelos seus cavalos brancos, na abóbada celeste, quando anuncia aos mortais a chegada da Aurora, sua mãe. Os cavalos de conduzir eram-lhe consagrados. E na astrologia, o deus Lúcifer era personificado na aparição matutina do planeta Vênus . Esta bagunça teológica era conhecida dois pais e após Orígenes, começar a identificar Is.14:12 com satã ou diabo através da ALEGORIA esta interpretação passa a ser normativa para o texto de Isaías 14:12, onde de Eósforos (que é a tradução grega) se chamará de Lúcifer após a tradução de Jerônimo.

Os pais antioquinos.

Os pais antioquinos são os mais bíblicos em matéria de interpretação deste período. Nomes que contribuirão para tal, como Doroteu, Diodoro, Teodoro da Mopsuéstia e João Crisóstomo (354-407) era arcebispo de Constantinopla. Teodoreto (386-407) escreveu comentários sobre a maioria dos livros do A.T. e sobre as epístolas de Paulo.18

Os pais da igreja dos séculos V e VI.

Por fim chegamos a Jerônimo (347-419) o qual adotou a alegorização de Orígenes. Sua primeira obra exegética, Comentário sobre Obadias, foi alegórica. Ele acreditava que um sentido mais profundo das Escrituras poderia ser desvendado a partir do sentido literal.19
Para finalizar este pequeno resumo da pratica da alegoria quero citar um dos maiores alegoristas bíblicos de todos os tempos Agostinho (354-430) foi um teólogo proeminente que exerceu grande influencia na igreja durante séculos.
Um exemplo de sua ALEGORIA ...
ao pregar a parábola do BOM SAMARITANO, disse que o viajante tinha sido Adão e os salteadores, o Diabo e seus anjos; o samaritano era Cristo; a estalagem, a igreja; e o hospedeiro, o apóstolo Paulo; o sacerdote e o levita representam o ministério do Velho Pacto ou Antigo Testamento
Tal prática ainda perdurou na Idade Média e na Idade Moderna começou a mudar um pouco, contudo ainda é presente em nossos dias em vez de alegoria chamam de espiritualizar o texto e tais interpretações descobrem coisas absurdas, para aqueles que ignoram que o sentido espiritual de um texto se encontra dentro do contexto ( Princípios teológicos, gramaticais, históricos etc ) do texto esta matéria não terá sentido.

· O problema desta interpretação de Isaías 14:12., se dá por uma má tradução do texto hebraico.
A questão de Héylel Ben Shahar
Bíblia Hebraica Trinitariana Ysh.14:12:

נָפַלְתָ מִשָׁמַיִם הֵילֵל בֶּן־שָׁחַר נִגְדַּעְתָּ לָאָרֶץ תוֹלֵעָה׃ אֵי
As palavras grifadas são Héylel ben shahar que a tradução é equivalente a versão em português que está sendo utilizada nesta matéria "ó estrela da manhã, filha da alva! ", algo que é bem diferente da versão de Jerônimo (Lúcifer/ Portador da luz). O problema começou aqui quando fizeram a má tradução da bíblia hebraica para a grega (Septuaginta).
Septuaginta Is.14:12:"anou o ewsforov o prwi anatatellon sinetribnh eiv thn ghn o apostellon prov panta ta eynh".
· A Tradução ocorreu assim...
Conta nos uma lenda registrada na Epístola de Aristéia como o bibliotecário de Alexandria persuadiu Ptolomeu a traduzir a Tora para o grego, para o uso dos judeus dessa cidade. E prosseguiu dizendo que que seis tradutores de cada uma das doze tribos foram selecionados, terminando o trabalho em apenas 72 dias. Embora as minúcias desse acontecimento sejam pura ficção, pelo menos mostram que a tradução da Septuaginta para o uso dos judeus alexandrinos é confiável.20
Na verdade uma razão óbvia para a tradução para o grego foi a invasão da cultura e língua grega em varias partes do mundo inclusive no Egito (Alexandria), isto se deu inicialmente pelas campanhas de Alexandre o Grande, onde os líderes do judaísmo naquela localidade se viram na nessecidade de compor uma tradução na língua popular que era o grego.
A qualidade da tradução dos Setenta não é a mesma. Há passagens que diferem do texto Hebraico, podem-se indicar várias passagens que sublinham essa constatação, como Dt.32.8, Êx.1.5, Is.7.14; e inclusive o de Is14.12, pois em vez de traduzirem para asthr o prwinov (estrela da manhã) colocaram ewsforov (Brilhante, algo que produz luz, portador da Luz) a raiz desta palavra vem de fósforo que não tem nada haver com estrela da manhã. O problema de terminologia começa aqui.

Vulgata Is14:12: "Quomodo cecidisti de caelo, lucifer, fili aurorae? Deiectus es in terram, qui deiciebas gentes,"
Jerônimo usa a versão dos Setenta em vez de utilizar o texto Hebraico, pois se utilizasse o texto Hebraico deveria traduzir para stella matutina (estrela da manhã) e não Lúcifer.

Devido essas más traduções gerou...

Versões latinas que seguiram a tradução para "Lúcifer" em vez de "estrela da manhã".

Reina-Valera 1960 Is.14:12: !!Cómo caíste del cielo, oh Lucero, hijo de la mañana! Cortado fuiste por tierra, tú que debilitabas a las naciones.

King James Version Is.14:12: How art thou fallen from heaven, O Lucifer, son of the morning! how art thou cut down to the ground, which didst weaken the nations!

La Nuova Diodati Is.14:12: Come mai sei caduto dal cielo, o Lucifero, figlio dell'aurora? Come mai sei stato gettato a terra, tu che atterravi le nazioni?
Para mim com todas estas exposições seria suficiente para compreender o texto de Is.14:12., mas irei até o fim perícope para uma visão melhor desta profecia.

ISAÍAS 1418
13. E tu que dizias em teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus (deuses)
21colocarei meu trono, e no monte da assembléia me assentarei, nas extremidades do norte;
Comentário: Na explicação de Mackay sobre o monte da assembléia explica este texto. Mas se o texto estivesse falando do diabo teria um pequeno erro, pois se o diabo foi expulso do céu pela lógica ele estava lá como ele poderia dizer"Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus", quem quer subir é porque não está em cima. O verbo subir está no futuro e não no passado subi. Se o diabo quis subir para o céu é porque ele estava na terra algo que aumentaria o problema para esta interpretação.
Mas o texto se refere-se ao rei da Babilônia que procurava ser mais do que uma radiosa estrela da manhã: ele queria elevar-se acima das estrelas de Deus, a fim de estabelecer o seu trono no próprio céu e sentar-se naquela montanha no extremo norte onde, de acordo com a mitologia citada acima, os deuses tinham sua residência, e para onde acorriam para aconselhar-se em conjunto.22
14. Subirei acima das alturas das nuvens, e me tornarei semelhante ao Altíssimo.
Comentário: Aqui faz referencia ao desejo dele subir acima do cume das nuvens, ao céu, e farzer-se igual ao Altíssimo, o deus supremo que, para a cultura babilônica estava acima dos outros deuses.
15. Contudo serás levado para o Seol, ao mais profundo do abismo.
Comentário: Na cultura judaica Seol não é inferno (lugar da condenação dos ímpios), mas a sombria residência dos mortos.23 Então o texto não está falando que o diabo foi lançado no inferno, mas que Nabucodonosor seria morto. Algo que se cumpriu em após a dominação medo-persa. O texto enfatiza que em vez de elevar-se às alturas mais sublimes, ele cairia às maiores profundezas.
16. Os que te virem te contemplarão, e observando, dirão: Este é o homem que fazia estremecer a terra; e tremer os reinos?17.Que reduzia o mundo a deserto, a assolava suas cidades? E seus prisioneiros não deixava ir para suas casas?
Comentário: Este fica muito difícil aplicar ao diabo, pois teria-mos que admitir que ele é um ser humano "Este é o homem " e ser homem implica em ter carne, osso, mortalidade etc.
Mas o texto mostra um ponto onde o poeta-profeta focaliza a sua atenção no corpo do tirano. Aqueles que o vêem (o povo da terra que vê o seu corpo) observam-no com grande admiração e clareza; dificilmente é possível crer que este é o homem que devastava a terra e conservara cativos tantos reis.25
18. Todos os reis das nações, todos eles dormem em glória, cada um em seu túmulo.19. Mas tu és lançado de tua sepultura, como um renovo abominável, coberto de mortos traspassados à espada, como o cadáver que desce à cova e é pisado por pedras.20. Tu não te reuniras com eles, na sepultura; porque destruíste tua terra, e mataste teu povo.
Comentário: A sorte do Rei está se tornando pior do que a deles. Libertados pela queda dos caldeus, eles voltarão as suas respectivas pátrias, e ali, por ocasião de sua morte, serão sepultados com honra. O corpo dele, por outro lado, será lançado fora de seu túmulo; ele pode ser de descendência real, mas agora ele é um renovo cortado de uma árvore e zombeteiramente lançado fora. Assim, ele jaz como cadáver pisado, em uma sepultura comum criada em campo de batalha, no meio de outros corpos despedaçados jogados como ele sobre as pedras que cobrem o fundo dessa vala comum. Devido a todos os atos violentos que praticara, não é unido aos outros reis por ocasião da sua morte.26
21. Preparai a matança de seus filhos, por causa da iniquidade de seus pais, para que não se levantem, e se apossem da terra, e encham o mundo de cidades.
Comentário: Aqui fala sobre a morte da sua descendência. Os filhos precisam ser mortos para que, como ele, não venham a dominar a terra e enchê-la cidades, das quais possam controlar as nações.
22. Porque me levantarei contra eles, diz o Senhor dos exércitos; e cortarei da Babilônia o nome, e os sobreviventes, o filho e o descendente, diz o SENHOR.. 23. Reduzi-la-ei a uma possessão de ouriço, e em lagoas de águas; e a varrei com vassoura da destruição, diz o Senhor dos exércitos.
Comentário: Em conclusão, esta profecia passa de novo do rei para a própria Babilônia que, com sua população, será completamente destruída e transformada em um deserto.
Conclusão

Respondendo ao título desta matéria Lúcifer do capítulo 14:12 de Isaías pode ser Nabucodonosor ou Nabônides, o meu propósito com esta matéria não é construir teologias absurdas, mas mostrar que os pais da igreja como Jerônimo e Tertuliano erraram na interpretação, tanto é verdade que tal interpretação não foi aceita por todos. Lutero e Calvino rejeitarão esta interpretação ambos com a idéia como erro grosseiro.
Espero que tenha gostado desta matéria, caso queira comentar alguma coisa entre em contato comigo. Se você gostou passe esta interpretação do texto de Is.14:12 para que outros também sejam esclarecidos.


Emmanuel Neto