segunda-feira, 4 de agosto de 2008

PODE EXISTIR INSPIRAÇÃO NOS APÓCRIFOS E PSEUDO-EPÍGRAFOS DO ANTIGO TESTAMENTO?


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 16
I. A HISTÓRIA DOS CANÔNES DO A.T., 18

1.1.Definição de cânon, 18
1.2.A pré-história do cânon do A.T, 20
1.3.A origem do cânon do A.T, 24
1.4.O cânon palestinense, 25
1.5.O cânon alexandrino, 25
1.6.O cânon samaritano, 29
1.7. Princípios de canonicidade judaico, 30
A)A concepção de que a idade determinava a canonicidade, 30
B)A concepção de que a língua hebraica determina a canonicidade, 30
C)A concepção de que a concordância do texto com a Torah determina a sua canonicidade, 30
D)A concepção de que o valor religioso determina a canonicidade, 30
1.8. Os homologôumenos e Os Antilegômenas do A.T., 32
A)Cânticos dos cânticos, 33
B)Eclesiástes, 33
C)Ester, 34
D)Ezequiel, 34
E)Provérbios, 34

II. A RELEVÂNCIA DOS PRINCIPAIS APÓCRIFOS E PSEUDO-EPÍGRAFOS DO A.T., 36

2.1.Definição dos termos apócrifos e pseudo-epígrafos, 36
2.2.A relevância teológica dos apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T., 37
A)O livro de Tobias, 38
B)O livro de II Macabeus, 39
C)O livro Eslavo de Henoc, 40
D)Os oráculos Sibilinos, 42
E)O Apocalipse grego de Baruc, 43
F)O Livro de IV Esdras, 44
G)O Apocalipse siríaco de Baruc, 45
H)O livro etíope de Henoc, 47
I)A Assunção de Moisés, 48
2.3.A relevância histórica dos apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T., 50
A)O livro de I Macabeus, 51
B)A Carta de Aristéia, 52
2.4.Relevância cultural dos apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T., 54
A)O livro de IV Macabeus, 54
B)O livro dos Jubileus, 56
C)Vida de Adão e Eva, 57
2.5.Relevância devocional dos apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T., 58
A)O livro de Eclesiástico, 59
B)O livro de Baruc, 60
C)A Carta de Jeremias, 61
D)O livro de I Macabeus, 62
E)Adições a Ester, 62
F)Adições a Daniel, 63
G)Cântico dos três jovens, 63
H)A história de Suzana, 64
I)Bel e o Dragão, 65
J)A Oração de Manassés, 65
L)O livro de III Esdras, 66
M)Os Salmos de Salomão, 67
N)Os Testamentos dos Doze Patriarcas, 68
O)A Vida de Adão e Eva, 70
P)Ascensão de Isaías, 70

III. O PROBLEMA DA INSPIRAÇÃO, 73

3.1.Definição de inspiração, 74
3.2.Resposta a respeito da inspiração dos pseudo-epígrafos do A.T., 75
3.2.1 A natureza dos pseudo-epígrafos do A.T., 76
3.3.Resposta aos argumentos a favor da inspiração dos apócrifos do A.T., 78
A)O N.T. e os apócrifos, 78
B)A LXX e os apócrifos, 79
C)Usados pelos pais da igreja, 79
D)Livros nos manuscritos gregos, 81
E)Temas apócrifos na arte das catacumbas, 81
F)Aceitação pelos primeiros concílios. 82
G)Aceitação pela Igreja Ortodoxa, 83
H)Aceitação nos Concílios de Florença e Trento, 83
I)Livros apócrifos nas versões protestantes, 84
J)Livros apócrifos em Qumran, 85
3.4.Alguns apócrifos e pseudo-epígrafos contém iluminação divina, 87

CONCLUSÃO, 89
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, 92







ABREVIATURAS E SIGLAS

a.C._ Antes de Cristo
A.T._ Antigo Testamentos
Cr_ Crônicas
Dt_ Deuteronômio
Ec_ Eclesiástes
Êx_Êxodo
Is_Isaías
Jd_ Judas
Jr_Jeremias
Lc_ Lucas
LXX_ septuaginta
Mc_ Marcos
Mt_ Mateus
Pv_Provérbios
Rs_ Reis
séc._ Século
























INTRODUÇÃO

O que são livros apócrifos do A.T.? O que são livros pseudo-epígrafos do A.T.? São livros heréticos? São livros falsos? Ensinam doutrinas católicas reprovadas pelos protestantes? Podem ser lidos pelos cristãos protestantes? Por que ficaram de fora do cânon? Qual a importância dos apócrifos e pseudo-epígrafos para o estudo bíblico hoje? Pode existir inspiração nos apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T.?

Estas perguntas são feitas por muitos interessados no assunto, e foram estas e outras que levaram o autor a pesquisar a respeito deste assunto. Contudo a principal foi a última: Pode existir inspiração nos apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T.?

Apesar de existirem muitas perguntas, existem também muitas respostas e permanece a dúvida a respeito deste assunto polêmico. Foi com o propósito de revelar a verdade apócrifa, que o autor fez esta pesquisa.

Muitos séculos passaram, a despeito dos livros apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T. não terem sido incluídos no cânon das Escrituras cristãs protestantes, tais textos continuam despertando a curiosidade do crescente número de interessados nas coisas da Religião. Todavia, o desconhecimento generalizado do conteúdo dos apócrifos tem gerado especulações que somente o exame acurado de seu real teor pode dirimir.
O maior problema aqui apresentado é em relação a possibilidade serem inspirados os apócrifos e pseudo-epígrados do A.T. Para isso ser solucionado, serão analisados e confrontados os conteúdos dos principais livros apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T. com as opiniões dos pais do judaísmo e os pais da igreja cristã à luz de uma teologia bíblica e coerente.

O autor começará falando da história dos canônes, o que significa a palavra cânon, como foi desenvolvido a mentalidade da necessidade de criação de um cânon, como o cânon surgiu, os principais canônes da antiguidade, os princípios judaicos que regeram as escolhas dos livros aprovados e reprovados. Também falará do significado das palavras apócrifo e pseudo-epígrafo, as relevâncias teológicas, históricas, culturais e devocionais dos principais livros apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T. E por fim, resolverá o problema da inspiração levantado nesta pesquisa, trazendo uma boa definição de inspiração, análises dos principais argumentos a favor e contra os apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T. e a resposta do título desta obra.

É uma pesquisa sucinta, mas muito informativa e formativa. E no final da obra cada leitor poderá ter um conhecimento e uma opinião diferente sobre um tema tão popular e ainda complexo na cristandade.





















I. A HISTÓRIA DOS CANÔNES DO A.T.

Os livros conhecidos como apócrifos e pseudo-epígrafos pelos protestantes, antes de receberem esta nomenclatura circulavam junto com os outros livros conhecidos como canônicos, contudo várias razões fizeram com que diferenças fossem aparecendo e para entender todo este processo é necessário compreender a palavra cânon e seu desenvolvimento, as principais formas de cânon, razões judaicas que regeram as escolhas de um cânon e os livros canônicos do A.T. que fizeram parte deste processo de avaliações.

Para introduzir-se na história dos canônes do A.T. é preciso ter uma noção clara do que é e o que significa a palavra cânon dentro do contexto da literatura Judaico-cristã do A.T.

1.1 Definição de cânon.

A história dos canônes é bem abrangente inicia desde os tempos mais remotos da história hebraico-judaica até os concílios da era cristã e dentro deste período que se dá uma história complexa a respeito de sua elaboração. De início para compreender a história dos canônes é preciso entender o termo cânon.
A palavra é de origem Grega kanon, em hebraico kaneh, denotava o caule de uma cana e depois qualquer bordão de madeira, comprido, norma. Aplicavam o termo a moral, a gramática, a história, a arte e a matéria tributária. Desde o século II os escritores eclesiásticos mencionam um cânon, ou seja, norma de fé. Do século III em diante a legislação eclesiástica é denominada cânon da igreja. O termo cânon (bíblico) para indicar o conjunto dos livros sagrados inspirados por Deus, encontra-se em uso já no século III para tornar-se comum a partir do século IV.1


Em outras palavras a palavra cânon é um termo técnico para diferenciar os livros considerados inspirados para os que não são para uma determinada comunidade religiosa.

Os hebreus utilizarão um critério diferente a respeito dos livros considerados canônicos. “Na tradição de ensino de Israel, surgiu um conceito de livros tão sagrados ou santos, que aqueles que os usassem ficariam com as mãos ‘conspurcadas’”.2 Esta tradição é mais lendária do que uma formulação teológica organizada a respeito de um critério para exame de livros sagrados.

Além de mãos conspurcadas poderá ser encontrada a expressão mancham as mãos. Esta lenda aparece nas literaturas rabínicas por exemplo: “Assim diz o Talmude: O evangelho e os livros dos hereges não maculam as mãos; os livros de Ben Sira e quaisquer outros que tenham sido escritos desde sua época não são canônicos. (Tosefta Yadaim)”.3 Esta idéia de manchar as mãos para critério para escolha dos livros também foi utilizada para reprovar os livros do N.T. pelos judeus.
Mediante uma tradição rabínica os escritos que mancham as mãos (devido um produto que colocavam para conservar), tocar nestes livros trazia impureza levítica. Para eles tais escritos transmitiam um fluído invisível, depois os livros tomaram um sentido de sagrado devido o fato de não mais coloca-los perto de outros elementos do culto, ficaram intocáveis daí a idéia de sagrado. É claro que a idéia era apenas não mistura-los com outros elementos do culto.4

Alguns conceitos de canonicidade judaico são bastante lendários, mas a idéia de um cânon surge pela necessidade uma regra para se compreender quais os livros deveriam ser aceitos.

Todo este processo de construção do conceito da palavra cânon no A.T. é um dos passos iniciais para compreender a história dos canônes, contudo antes da palavra cânon receber o conceito de conjunto de livros sagrados e inspirados por Deus, ocorre um período que coopera para o surgimento da idéia de cânon, que é conhecido como a pré-história do cânon do A.T.

1.2 A pré-história do cânon do A.T.

A formação do cânon se dá por fases da história judaica e nessa fase a idéia de cânon vai evoluindo gradativamente, mas a base para iniciação do cânon é a arte da escrita na cultura hebréia.

Nos tempos mais remotos da humanidade os antigos acreditavam que os deuses falavam por palavras humanas. Contudo, bem mais tarde, isto veio acontecer na história de Israel através de livros como 'sagradas escrituras'. Na religião judaica a 'lei de Moisés' era obrigatória em matéria de comunicação divina. A lei não foi concluída na sua forma final se não ao redor de 400 a.C., porém parece que a lei é usada num tempo anterior. Em Neemias 8-10, segundo Johs Pedersen, dá a entender que já se fazia a leitura da lei na época de Esdras na festa do ano novo.5 O conceito de comunicação divina através de livros sagrados é um fenômeno religioso bem anterior à cultura hebréia, mas depois de assimilado tornou-se um dos carros-chefes de sua religião.
Ora , quando chegou o sétimo mês os filho de Israel estavam assim instalados em suas cidades, todo o povo se reuniu. Disseram ao escriba Esdras que trouxesse o livro da lei de Moisés que Iahweh havia prescrito para Israel. Então o sacerdote Esdras trouxe a lei diante da assembléia, que se compunha de homens, mulheres e todos que tinham o uso da razão. Era o primeiro dia do sétimo mês. Na praça situada diante da porta das águas, ele leu o livro desde a aurora até ao meio dia, na presença dos homens das mulheres e dos que tinham o uso da razão: Todo o povo ouviu atentamente a leitura do livro da lei.6


Em Neemias 8.1-3 ocorre uma aparição da prática que poderia está ocorrendo em Israel, a leitura constante do livro da lei como forma de comunicar a mensagem de Deus.

Existe outro exemplo da idéia de um livro como comunicação da vontade de Deus. Na reforma de Josias em 621 a.C. (II RS 22-23), a descoberta do livro é vista como expressão da vontade de Deus. Segundo Eissfeldt a idéia de pessoas inspiradas que pronunciavam a vontade de Deus como o profeta e sacerdote, levaria com que estas palavras fossem guardadas para mais tarde serem fixadas num livro. Outra opinião seria a respeito das leis que Deus mesmo escreveu ou ditou a Moisés (Êx 24.12; 31.18; 32.15-16; 34.1-27).7De forma processual a mensagem divina no contexto hebreu toma um rumo literário não apenas transmitido verbalmente.

Nesse período a vontade de Deus toma um caracter mais literário, é bem verdade, pois é visto em Deuteronômio, de forma negativa, quem altera alguma coisa, onde ocorrem ameaças por tal prática (Dt 4.2; 12.32). Esta forma de transmissão, da vontade de Deus por escrito, pode se fundamentar na lei de Hamurabi, cuja a idéia é semelhante ao fato de receber de um Deus (SHAMASH) para o povo. Algo que será visto em Moisés como legislador de Israel.8 A religião hebréia recebe uma influência de várias culturas na composição de sua teologia, agora em relação à prática literária teve uma maior influência da cultura babilônica.
Existe outro período que contribui para formação do cânon. Isto ocorre quando os profetas começam a dar suas opiniões a respeito das escrituras Isaías impõem a comunidade de seus discípulos a obrigação de serem os portadores e preservadores da palavra (Is 8.16), Jeremias manda Baruc descrever as suas pregações dos últimos 23 anos (Jr 36). No Dêutero-Isaías a referência a profecias anteriores desempenha uma grande parte. O exílio babilônico cooperou para confirmar as palavras dos profetas que já estavam tomando um caráter de palavra de Deus. No caso dos livros conhecidos no cânon protestante, assumiram um caráter divino, pois os hebreus acreditavam que foram escritos por profetas.9 Com o surgimento do fenômeno religioso do profetismo na cultura hebraico-israelita a composição literária da mensagem divina tomou um caráter fundamental, para a sacralização da idéia de livros ou livro inspirado por Deus, pois a figura do profeta no A.T. era de um porta-voz de Deus. E, por fim, a canonização dos hagiógrafos ou escritos. Segundo Eissfeldt a consciência da inspiração dos poetas, dos sábios e dos profetas cooperou para considerar os livros poéticos e sapienciais, até porque, existe uma conexão entre os cantores e os profetas cúlticos.10 Tal consciência foi fundamental pois se os poetas são inspirados por Deus logo seus escritos devem ser considerados como escritura sagrada.

Todo este processo de construção de uma consciência canônica levou séculos para chegar a uma norma mais ou menos clara, onde surge o período da origem do cânon.

1.3 A origem do cânon do A.T.

A tradição judaica como está por exemplo em Josefo (contra apionem I,38-42) e no Talmude (Bathra 14b-15a), os 22 livros foram escritos entre Moisés e Esdras, tendo Moisés escrito seus cinco livros e Jó; o resto do antigo foi escrito por Josué, Samuel, Davi, Jeremias (os homens de Ezequias), a 'Grande sinagoga' e Esdras. O período da literatura canônica é entre Moisés e o rei Artaxerxes. O que passar disso será de procedência não profética isto segundo Josefo.11 Este critério do período de inspiração que vai de Moisés ao rei Artaxerxes à luz da crítica moderna alguns livros canônicos, não poderiam ficar no cânon pois ultrapassariam esse período, contudo esta tradição foi um dos elementos que contribuíram para a formação do cânon.

Josefo divide o cânon em três partes: 5 de Moisés, 13 dos profetas e 4 contendo hinos e regras de vida. Outra tradição é que Esdras restaurou as escrituras queimadas em 587 a.C.: durante 40 dias, inspirado por Deus; ele dita 94 livros aos seus assistentes, diz-se que publicou a maior parte e outra pequena a seus assistentes. Só durante o séc. XVIII o racionalismo questionou esta teoria, a qual é bem romântica como é apresentada em II Macabeus 1.10-2.18 a respeito da biblioteca fundada por Neemias.12 Josefo foi um dos grandes personagens influênciadores para o surgimento e composição do cânon. Mas no contexto da religião judaica não existiu apenas uma forma de expressar um cânon, mas diversas formas e uma das principais foi o cânon palestinense.

1.4 O cânon palestinense.

Os judeus não possuíam apenas uma forma de cânon, ou seja, os livros considerados sagrados este é o cânon dos que moravam na Palestina. Durante o primeiro século, os judeus discordavam sobre a constituição do cânon das Escrituras. De fato, havia muitos 'canônes' sendo usados, incluindo livros usados por cristãos. Para combater a disseminação do rito cristão, os rabinos se encontraram na cidade de Jâmnia em 90 d.C. para determinar quais os livros que continham as verdadeiras palavras de Deus. Pronunciaram-se afirmando que muitos livros, incluindo os Evangelhos, eram impróprios para serem considerados Escritura Sagrada. Este cânon também excluiu os apócrifos e alguns pseudo-epígrafos que os cristãos consideravam como parte do A.T. O grupo de judeus que estavam em Jâmnia tornou-se o grupo dominante no decorrer da história judaica e, hoje, muitos judeus aceitam tal cânon. Entretanto, alguns judeus, como os da Etiópia, seguiam um cânon diferente e idêntico ao cânon da LXX do A.T., pois incluíam os sete livros deuterocanônicos. O Talmude ainda apresenta indícios de livros apócrifos que sejam citados como cânon, onde cita eclesiástico.13 Este cânon palestinense foi o que surgiu entre os judeus mais conservadores, por isso tal cânon seguiu de forma mais rigorosa às tradições israelitas, para sua elaboração.
E Por fim o cânon palestinense (depois hebraico) ficou com os 39 livros da bíblia protestante, contudo a sua arrumação é diferente. Lei (Torah/Pentateuco)- Gênesis (No princípio), Êxodo (Estes são os nomes), Levítico (E [Iahweh] chamou Moisés), Números (No deserto), Deuteronômios (Estas são as palavras). No cânon palestinense cada primeira frase é o nome do livro. Profetas (Niebium) Profetas anteriores- Josué, Juízes, Samuel (I e II juntos) Reis. (I e II juntos) os judeus consideravam Josué, Samuel e outros como profetas por isso estes livros históricos entram no cânon como proféticos. Profetas posteriores. Isaías, Jeremias, Ezequiel, Os doze profetas, na ordem retomada pela Vulgata: Oséias, Joel, Amos, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias. Escritos (Kietûvîm ou Hagiógrafos). Salmos, Jó, Provérbios, Rute, Cantares, Eclesiástes, Lamentações, (Os cinco últimos são designados pelo nome de 'cinco rolos', eram lidos durante as festas judaicas) Daniel, Ester, Esdras-Neemias e Crônicas. Nestas arrumação a bíblia hebraica fica com vinte e quatro livros.14

As bíblias protestantes e também de algumas seitas protestantes possuem os mesmos livros do cânon palestinense, contudo este não foi o único a ter grande influência nas maiores religiões do mundo, mas sim o cânon alexandrino.

1.5 O cânon alexandrino.

Em uma data bem antiga existia também outra coleção de sagradas escrituras dos judeus que em algumas partes diferem dos judeus palestinenses, este é o cânon de Alexandria. Esta coleção era dos judeus egípcios, comumente chamada de septuaginta.15
O cânon alexandrino recebe este nome por causa da cidade Alexandria, mas não se limitava apenas aos judeus que moravam nesta localidade.

Este cânon tornou-se diferente por vários motivos entre eles a helenização, mas houve um homem que contribuiu bastante para divulgação e aceitação deste cânon, este foi o filósofo Fílon, o qual aparentemente não reconhecia a teoria palestinense que limitava o período da revelação entre Moisés e Artaxerxes.16

A influência da cultura grega atingiu várias partes do mundo, como os judeus alexandrinos estavam numa cidade que teve uma grande influência desta cultura, tal absorvição cultural ajudou na composição de um cânon diferente.

Mas a base para os judeus alexandrinos e palestinenses era a lei, nisto os canônes vão concordar em matéria de escritura sagrada. Josefo parece usar a bíblia palestinense tripartite, mas por outro lado faz freqüentemente uso de escritos não canônicos e apócrifos. A sua divisão é: legislação e história: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômios, Josué, Juízes, Rute, Quatro livros do reinos: I e II Samuel, III e IV Reis, Paralipômenos, I e II Crônicas, I Esdras (apócrifo), II Esdras (Esdras e Neemias), Ester (com os fragmentos próprios do grego), Judite, Tobias, I e II Macabeus e os apócrifos III e IV Macabeus. Poéticos e profetas: Salmos, Odes, Provérbios, Eclesiástes, Cantares, Jó, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Salmo e Salomão, os doze, Isaías, Jeremias, Baruque (1-5), Lamentações, Carta de Jeremias (Baruque 6), Ezequiel, Suzana (Daniel 3), Daniel 1-12 (3, 24- 90 é próprio do Grego). Bel e o Dragão.17

A utilização feita por Josefo de alguns livros do cânon alexandrino demonstra a popularidade deste cânon no meio judaico. Os judeus de Alexandria com contato com a filosofia grega cooperou para torna-los mais liberalistas lançando fora uma postura ortodoxa e fechada como os judeus palestinenses, devido isto, eles abriram o seu cânon para outras propostas canônicas. Esta diferença aparente do cânon palestinense e alexandrino motivado por tradições judaicas, filosofia e teologia foi marcante entre os dois, todavia existia um cânon que se diferenciava de ambos, o cânon samaritano.

1.6 O cânon samaritano.

Este cânon é bem simplificado ele compreende apenas o pentateuco como escritura sagrada, porém os samaritanos têm uma adaptação do livro de Josué que parece a continuação da história até os tempos imperiais romanos. Este cânon é simplificado porque os samaritanos se separaram dos jerusalamitanos antes de terem desenvolvidos as partes poéticas e proféticas, mas existem outros que pensam que os samaritanos rejeitaram pelo fato de as partes poéticas e proféticas conterem passagens anti-efraimíticas.18 A hostilidade entre judeus e samaritanos é algo antigo, seja por razões políticas, econômicas e religiosas. Tal ruptura relacional cooperou para uma grande diferença do cânon.

Ao comparar o pentateuco samaritano com o cânon hebraico pode-se identificar uma diferença absurda de 6.000 variantes. Essas variantes são ortográficas ou morfológicas. Além disso dentro do pentateuco foi inserido textos com interesses samaritanos principalmente em relação ao monte Gerizim. Os manuscritos mais antigos ainda estão em Nablus e os sectários proíbem a publicação. Todo manuscrito samaritano não é antes do séc. X d.C.19 Os samaritanos elaboraram um cânon bem diferente dos canônes palestino e alexandrino, essa diferença cooperou para que este cânon se restringi-se apenas para o contexto samaritano, sendo assim um cânon exclusivamente samaritano.

Com tanta diversidade de opiniões sobre como deveria ser o cânon, vários rabinos entraram em discussão, simpósios, debates teológicos para tentar nortear como deveria ser o cânon do A.T., tais debates levaram a princípios que regeram a canonicidade para a escolha dos livros sagrados para os judeus.

1.7 Princípios de canonicidade judaico.

Os rabinos utilizaram princípios para avaliar a canonicidade dos livros, mas hoje eles não são aceitos pela crítica moderna.
A) A concepção de que a idade determinava a canonicidade - A teoria segundo a qual a canonicidade de um livro é determinada pela sua antigüidade, que tal livro veio a ser venerado por causa de sua idade20 refere-se ao período que vai de Moisés ao rei Artaxerxes.

B) A concepção de que a língua hebraica determina a canonicidade - É insatisfatória também a teoria segundo a qual os livros que fossem escritos em hebraico, a língua 'sagrada' dos hebreus, seriam considerados sagrados, e os que houvessem sido escritos em outra língua não seriam introduzidos no cânon.21

Esta teoria será utilizada no concílio de Jâmnia, o qual os rabinos irão rejeitar todos os livros e textos (adições) escritos em grego.

C) A concepção de que a concordância do texto com a Torah determina a sua canonicidade - Outra teoria é que a concepção de que a concordância com a Torah determina a canonicidade, esta teoria é insatisfatória, porque não explica o que foi que determinou a canonicidade da Torah. Tal teoria é demasiado generalizante, textos que estavam de acordo com a Torah não foram aceitos como inspirados.22

Esta teoria é vista na tradição judaica, pois antigamente a Torah era considera superior aos outros livros e nos debates rabínicos alguns livros como Ezequiel foram considerados polêmicos pois pareciam se contradizer com os ensinos da Torah.23

D) A concepção de que o valor religioso determina a canonicidade - Neste caso esta teoria do valor religioso se agrupa com o cultural e político, ou seja, os rabinos comparam um cânon mediante livros que enfatizam a sua religião e cultura. "Não é o valor religioso que determina a canonicidade de um texto; é sua canonicidade que determina seu valor religioso".24

Além das teorias que regeram a canonicidade dos livros existiam aqueles livros que nunca receberam questionamentos sérios a respeito de sua canonicidade, pórem existem alguns que antes de serem canonizados foram bastante questionados estes são os homologôumenos e os antilegômenas do A.T.

1.8 Os homologôumenos e Antilegômenas25do A.T.

A canonicidade de alguns livros nunca foi colocada à prova por grandes rabis da comunidade judaica. Tais livros foram aceitos pelo povo de Israel, pois acreditavam vir das mãos dos profetas, tal pensamento cooperou para as gerações seguintes aderirem. 34 dos 39 são classificados como homologôumena. Os cinco excluíveis seriam Cântico dos cânticos, Eclesiástes, Ester, Ezequiel e Provérbios.26
Os livros que originalmente eram aceitos como canônicos, e mesmo mais tarde também reconhecidos, tendo, sido, porém grande objeto de controvérsia por alguns rabis. Durante os séculos seguintes, surgiu e desenvolveu-se uma escola de pensamento diferente, dentro do judaísmo, que passou a questionar, entre outras coisas, a canonicidade de certos livros do A.T. que, antes, haviam sido canonizados. Por fim, tais livros foram reconduzidos ao cânon, por haver prevalecido a categoria de inspirados que lhes havia sido atribuída de início. No entanto, em vista de tais livros terem sido, nesta ou naquela época, difamdos por alguns rabis, passaram a serem classificados como antilegômena.27

Abaixo estão os livros que foram criticados e o porquê foram avaliados com maior rigor.

A) Cânticos dos cânticos - Alguns estudiosos da escola rabínica de Shammai consideravam este livro sensual na sua essência .28
O rabino Aquiba negou tal essência sensual dizendo que: "Todos os Escritos são santos, mas o Cântico dos Cânticos é o Santos dos Santos".29

Tal afirmação parece querer atribuir um caráter espiritual ao livro, algo que o mesmo não possui, pois o mesmo fala de uma relação entre homem e mulher.

B) Eclesiastes - A maior objeção contra este livro é o fato dele parecer cético. Outros o tem chamado de o cântico do ceticismo.30

O rabino Aquiba dizia: "Se há algo em questão, a questão gira em torno só do Eclesiástes (e não do Cântico)." O livro realmente possuí algumas expressões céticas como vaidade das vaidades tudo é vaidade! Nada há novo debaixo do sol, na muita sabedoria há muito enfado; a que aumento o conhecimento aumenta a tristeza. (Ec 1.2, 9,18).31 Este livro foi escrito durante o período conhecido como 400 anos do silêncio profético.

C) Ester - O problema deste livro seria o fato que em nenhuma parte não aparece nenhum termo em relação a ao nome de Iahweh, por isso seria um livro apenas histórico e não religioso, ou melhor sagrado.32

D) Ezequiel - Algumas pessoas na escola rabínica de Shammai, achavam que o livro não estava em harmonia com a lei mosaica.33

E) Provérbios - A controvérsia a respeito deste livro está no fato de alguns provérbios serem incompatíveis com outros. A respeito dessa incoerência interna, assim diz o Talmude: 'também procuram esconder o livro de Provérbios, porque suas palavras se contradiziam entre si' (Shabbath, 30b). Uma dessas supostas contradições encontram-se no capítulo 26, em que o leitor é exortado a responder e ao mesmo tempo não responder ao tolo segundo sua tolice. "Responde ao tolo segundo a sua estutícia, para que não seja ele sábio aos seus próprios olhos (Pv 26.4,5)".34

Estes foram os livros que por tradições, lendas e concepções teológicas receberam várias críticas antes de serem reconhecidos como livros canônicos pelos judeus e depois pelo cristianismo.

Em face do que já foi dito, o leitor é capaz de formular uma primeira tentativa de compreensão do que levou alguns livros do A.T. ficarem de fora do cânon ou seja a trajetória que estes livros passaram antes de serem chamados de apócrifos e pseudo-epígrafos.

Mediante esta introdução à história dos canônes do A.T. é possível a iniciação aos apócrifos e pseudo-epígrafos, onde a análise dos mesmos fará com que o leitor perceba a sua relevância para o estudo bíblico.







II. A RELEVÂNCIA DOS PRINCIPAIS LIVROS APÓCRIFOS E PSEUDO-EPÍGRAFOS DO A.T.

A partir de agora toda a elaboração dos textos irá revelar algumas contribuições que os apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T. podem oferecer em vários aspectos sejam eles teológicos, históricos, culturais, devocionais, literários, filosóficos etc.

Antes de analisar os livros com suas respectivas relevâncias teológicas, históricas, culturais e devocionais é prioritário não só conhecer os livros apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T., mas desmitificar o sentido negativo que estas duas palavras (apócrifos e pseudo-epígrafos) possuem em alguns círculos evangélicos, ecompreender o que siginifica os termos apócrifo e pseudo-epígrafo.

2.1 Definição de apócrifo e pseudo-epígrafo.

'Apócrifo' significa oculto, secreto, seja por referência a escritos não admitidos no cânon e a livros considerados heréticos.35 O termo apócrifo pela sua tradução não possui um sentido negativo, contudo ao passar do tempo a falta de informação substâncial a palavra apócrifo passou a ter um sentido negativo.

Pseudo-epígrafos significa literalmente escritos sob falsos nomes, os autores antigos tinham o costume de colocar em suas obras nomes de personagens reverenciados, tais como Abraão, Moisés e Isaías, principalmente os autores apocalípticos.36 Já a palavra pseudo-epígrafo possui um sentido negativo à luz de uma compreensão moderna de literatura, onde o livro recebe o nome do autor que a escreveu, contudo tal prática de escrever de forma pseudo-epígrafa era comum na antiguidade, é bem verdade que boa parte dos livros canônicos do A.T. são trabalhos de obra pseudo-epígrafas.

2.2 A relevância teológica dos apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T.

Os apócrifos e pseudo-epígrafos possuem uma teologia riquíssima. Teologia esta que na sua maioria não diverge do senso comum teológico do A.T. Divergindo das lendas populares evangélicas, onde tais lendas queriam transmitir a idéia que os apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T. passavam em seus escritos mensagens incentivando a idolatria, práticas pagãs etc.

Os livros relacionados serão analisados a partir de uma ótica de relevância teológica é claro que os livros relacionados não possuem apenas relevância teológica, mas coube ao autor destacar tais relevãncias.

A) O livro de Tobias - Leva este nome, pois trata-se da história de uma família, onde um piedoso israelita, dos neftalita chamado Tobit, seu filho Tobias e sua nora Sara demonstram confiança em Javé em meio a tantas angústias. É datado por volta do ano 200 a.C. no final do período persa ou início da época helenística, até porque o livro de Tobias alude "a história de Aicar e a de seu filho Nadim tão célebres na época persa".37

O resumo da obra narra a história de Tobias um exilado da tribo de Neftali, residente em Nínive, que é piedoso, observante da Lei, caridoso e que fica cego. Tem um parente chamado Raguel, que mora em Ecbátana, e que tem uma filha chamada Sara. Esta passa por vários problemas, pois viu morrer sucessivamente seus sete noivos e todos eram mortos pelo demônio Asmodeu, na noite de casamento. Tobias e Sara sem se conhecerem pedem que Javé livre-os daquela vida, daqueles dois infortúnios. Então Javé envia o anjo Rafael para conduzir a Tobias até a casa de Sara, filha de seu parente. Eles se casam e Tobias recebe do anjo Rafael o remédio para curar a cegueira de seu pai.38

A relevância teológica neste livro de Tobias aparece num judaísmo pouco diferente, pois pela observância da Lei, onde o dever, livremente empossado, de não deixar um cadáver passar a noite sem ser sepultado, mesmo em oposição às ordens de um soberano pagão, tem grande importância. O jejum e a oração são apreciados como meios de influenciar a Deus. O homem piedoso suporta os reveses da fortuna, como Jó. Quando a medida das provações está cheia, então chega o socorro de Deus, de forma eventual e milagrosa.39

B) O livro de II Macabeus - No livro de II Macabeus há uma relevância dupla tanto histórica quanto teológica. A respeito da relevância teológica II Macabeus mostra grandes desenvolvimentos em relação ao A.T. canônico. Tal relevância é de suma importância para entendimento da teologia do N.T. "É o primeiro a enunciar claramente uma doutrina da creatio ex nihilo [criação a partir do nada]"40 Esta teologia aparece nesta súplica do livro de II Macabeus:
Eu te suplico, meu filho, contempla o céu e a terra e observa tudo o que neles existe. Reconhece que não foi de coisas existentes que Deus os fez, e que também o gênero humano surgiu da mesma forma.41


O Resumo do livro de II Macabeus pode ser dividido em cartas. A primeira contém um convite aos judeus de Jerusalém aos judeus do Egito para comemorarem juntos a festa das cabanas no mês de Casleu, a segunda parte do mesmo remetente tem como destinatários Aristóbulo e os judeus do Egito. Este convite está cheio de lendas e milagres, mas tem como fim a comemoração da festa do templo. O restante do livro é a narrativa histórica, da mesma forma que o primeiro livro dos Macabeus.42

A relevância teológica do livro aparece também na defesa da ressurreição dentre os mortos, pelo menos, para os justos. Uma obra que dentro de sua história tem como objetivo trazer uma lenda festiva com o fim de fortalecer a fé na ajuda por parte de Javé em tempos de sofrimentos. Agora o que é digno de nota, isto tratando-se de uma questão de relevância teológica, é a sua angelologia, pois de forma enfática aparece a intervenção supraterrena e anjos.43

C) O livro Eslavo de Henoc - É uma obra tipicamente apocalíptica do séc. I a.C., escrito por um judeu alexandrino, ou talvez, um judeu cristão da Palestina e conservada em eslavo antigo, por isso recebe este nome. Este livro também recebe os nomes de: Os livros dos segredos de Henoc ou Segredos de Henoc e ainda II Henoc.44

O resumo pode ser dividido da seguinte maneira. Inicia com uma viagem de Henoc através de dez céus (originalmente talvez só através de sete): os capítulos 1-2 narra uma audiência com o próprio Deus, que instrui Henoc sobre a criação a partir do nada, até a criação do homem e a duração do mundo (7.000 anos mais um milênio), os capítulos 22-23 manda dois anjos levar Henoc de volta, para uma permanência sobre a face da terra, a fim de instruir a seus filhos a respeito da sorte futura que aguarda o mundo e o gênero humano: os capítulos 34-38 Henoc fala dos segredos dos céus por ele contemplados e acrescenta um discurso de advertência e o convite a propagar os livros por ele escritos: os capítulos 39-54, um discurso de despedida e a descrição do arrebatamento de Henoc encerram o livro com os capítulos 55-68.45
Meus filhos, olhai o dia do meu prazo chegou. Pois os anjos estão diante de mim e apressam-me para que me aparte de vós, estão diante de mim aqui na terra, esperando pelo cumprimento do que lhes foi dito. Assim, amanhã irei para o céu, à suprema Jerusalém, para minha eterna herança. Por isso, peço que só deis prazer diante da face do Senhor.46


A relevância teológica do livro eslavo de Henoc aparece na sua composição literária denominada apocalíptica, que geralmente eram escritos por "homens de letras e eruditos."47 Sua relevância teológica aparece em duas questões, a principal é no que tange a sua forma literária, pois a compreensão deste material facilita o entendimento de algumas literaturas de caráter apocalíptico do A.T. como Daniel, Ezequiel, Zacarias, etc, e do N.T., o apocalipse. E, de forma secundária, alguns elementos de seu conteúdo que se assemelham com as teologias judaico-cristãs como a idéia do céu dividido em andares e a do milênio.

D) Os oráculos Sibilinos - O termo sibila era o nome dado a certas mulheres dotadas de espírito divino e significava profetisa, bruxa ou feiticeira entre os antigos. A partir do séc. II a.C. os judeus de Alexandria utilizaram o gênero sibilino, que é de compreensão difícil e enigmático, como meio de propaganda. Entre os quais estão estes doze livros ou coleções mais conhecidos como Oráculos Sibilinos, que são os que existem de um total de quinze.48

O resumo do livro mostra ameaças de catástrofes, indo até à catástrofes final (ou seja a do juízo final), entre as catástrofes o livro alterna-se com ataques à prática da idolatria, aos Ptolomeus, aos Selêucidas e aos romanos. Faz alusão ao dilúvio, à construção da torre de Babel e a eventos históricos do passado que se misturam com discursos de advertência e encorajamento.49

A relevância teológica das sibilas judaicas pertencem à época da confrontação com o helenismo e da atividade missionária entre os gregos. Como estes se transformam em exploradores das leis e das doutrinas judaicas, procura-se apresentar certos vaticínios e a sabedoria pagã como construindo o anúncio de idéias propriamente judaicas. O A.T. leva a ver Javé como autor não só da graça, mas das desgraças e das catástrofes naturais. Atribuindo-se, então, semelhantes afirmações à sibila, procurava-se mostrar que, no fundo, ela também não estava longe das doutrinas do A.T.50

E) O Apocalipse grego de Baruc - O autor é um judeu que aceita o sincretismo helenístico-oriental. O manuscrito grego recebe dois títulos: O primeiro Diegesis Kai apocalypsis Barouch Ktl e o segundo Apocalypsis Barouch Ktl.51
O resumo do livro mostra Baruc no Cedron a lamentar a destruição de Jerusalém por obra de Nabucodonosor, quando vem consolá-lo um anjo que lhe promete mostrar os mistérios de Deus. O anjo o leva, em seguida, sucessivamente, a cinco céus, menciona o tamanho de cada um, mostra e interpreta; no terceiro, o significado dos habitantes, entre os outros, o carro solar com seu ocupante e a fénix que capta os raios do sol com as asas; no quinto céu, o chefe dos anjos, Miguel, que leva as boas obras dos justos à presença de Deus. Em seguida o anjo traz Baruc de volta a terra.52

A relevância teológica da obra satisfaz, por um lado a curiosidade teológica, como o livro Eslavo de Henoc, mas por outro, não se pode negar a nota ética e didática que acalma as emoções suscitadas ao se ouvir a descrição das torturas que esperam os ímpios e da glória de que serão revestidos os justos.53

F) O Livro de IV Esdras - Esta obra judaica é a mais difundida e usada no meio cristão primitivos. O autor é um judeu que dá extrema importância à destruição de Jerusalém e por isso escolhe como herói Esdras, que viveu depois da destruição de Jerusalém por volta do ano 587 a.C.54
O resumo do livro pode ser dividido da seguinte maneira: Os capítulos 3 e 14 são compostos de 7 visões: Na 1ª e 3ª são tratados os problemas do pecado, do sofrimento do mundo, da salvação e tem finalidades com a literatura considerada paulina; na 5ª é uma reinterpretação da visão de Daniel 7: símbolo de fim, a águia de 3 cabeças, que eram Vespasiano, Tito e Domiciano, saindo do mar, na 6ª o Messias aparece como um homem, talvez o 'filho do homem' de Daniel 7.13 que sobe do mar e esmaga os poderes inimigos, cósmicos e terrestres, e liberta os eleitos; a 7ª dá ordem a Esdras para escrever os 24 livros canônicos e os 70 secretos.55

A relevância teológica do livro de IV Esdras ocorre pelo fato de ser uma literatura de caráter apocalíptica, onde sua composição é um grande instrumento para o entendimento de literaturas desta classe. A obra mostra um tipo de judaísmo que se encontra abalados os antigos ideais da fiel e rigorosa observância da Lei, bem como a orgulhosa separação de sua nação em relação as outras, e se considera rejeitado por Deus, no conforto da humanidade, como minoria que fora escolhida por Deus, mas quanto à sua misericórdia. Dificilmente se poderia procurar na situação estreita e acanhada da Palestina esse judaísmo assim livre que pensa para além das barreiras particularistas e nacionalistas, que encara a própria catástrofe não mais unicamente como infortúnio nacional, como o faz o autor das Lamentações, e não propõe mais a própria miséria como interrogação dirigida à justiça de Deus, como ocorre em Jó. É perceptível que o autor do livro põe a sua esperança na futura salvação como solução para seus problemas, ao contrário do escritor das Lamentações e de Jó, o que o motiva, pelo contrário, não é propriamente o advento da era da salvação para seu povo, mas a questão referente às expectativas a todo ser humano.56

G) O Apocalipse siríaco de Baruque - Este livro é também conhecido como o Segundo Livro de Baruc, mas é chamado de siríaco por ser conservado nesta língua e num manuscrito da Peshita do séc. IV. Possui outro título que é Revelação de Baruc Ben Nériia, traduzido do grego para o siríaco. É datado entre 90 d.C.57

O resumo do livro pode ser dividido em 7 partes: 1ª parte (1-12), Javé comunica a Baruc que Jerusalém será destruída imediatamente por quatro anjos e que após a destruição os caldeus ocuparam-na; na 2ª parte (13-20), após um jejum de 7 dias, Javé revela que irá decretar um castigo para as nações pagãs também informa a respeito do destino que espera os justos e os injustos, e ordena-lhe que faça um novo jejum; na 3ª parte (21-24), Baruc prepara-se com orações e jejuns para receber revelações sobre o que Javé lhe disse e que precederá o aparecimento do Messias. Em seguida convoca os anciãos e diz-lhes que Sião será destruída e reconstruída mais duas vezes e sendo que a última será em meio a glórias e esplendor; na 4ª parte (35-46), Baruc lamenta-se sentado sobre os escombros do que fora o Santo dos Santos e tomado por um sono, onde tem um sonho de um jardim com penhascos em volta, o qual nasce uma videira que derruba tudo menos o cedro, mas este morre em meio às chamas. Depois disto nasce uma nova videira mais vigorosa. Após Javé revela a Baruc o significado desta visão e o incumbe de avisar ao povo, na 5ª parte (47-52), após novos jejuns e orações recebe uma revelação sobre a situação do tormento dos últimos tempos e sobre a futura corporeidade dos ressuscitados; na 6ª parte (53-76), ele vê uma nuvem que sobe do mar e se desfaz por 12 vezes, alternando-se em chuvas claras e escuras e por fim um raio claro. O anjo Ramiel explica-lhe o sentido que são diversos, em particular, da história que desde o pecado original até a era do Messias e ao final Baruc é arrebatado a um monte alto onde deve escalar durante quarenta dias, na 7ª parte (77-87), Baruc reúne o povo e pronuncia um discurso e, a pedido do povo, promete escrever uma carta às nove tribos e meia e outra às duas tribos e meia dos deportados da Babilônia. Assim termina o livro, com a comunicação do conteúdo da carta dirigida às nove tribos e meia.58

A relevância teológica do apocalipse siríaco de Baruc aparece pelo fato de ser um livro de consolação que, polemizado vagamente com o cristianismo depois da catástrofe de 70 d.C., procura solucionar as questões da recompensa dos justos e do castigo dos ímpios olhando para a salvação futura que se operará na manifestação do Messias, seu império e na ressurreição dos mortos que irá ocorrer.59

H) O livro etíope de Henoc - É conhecido também como I Henoc, Henoc I, Henoc e Palavras de Henoc. Este livro é um dos maiores apocalipses judaicos. Sua compilação tem 5 partes e contém ao todo 108 capítulos de exortações e profecias sobre o fim dos tempos. É chamado etíope por causa da única versão em que foi conservado completo.60

O resumo do livro pode ser dividido assim: o livro dos vigias (1-36), o livro das parábolas ou similitudes (37-71), o livro dos luminares celestes (72-82), o livro das visões em sonho (83-90) e o livro das admonições (91-105), seguido por conclusão nos capítulos 106-108.61

A relevância teológica do livro de Henoc ocorre pelo fato de ser uma compilação de tentativas feitas no sentido de resolver certos enigmas da Escritura, da natureza, do mundo e da pré-história e pós-história supra-terrestre, por exemplo, a queda dos anjos e a sorte futura dos justos e dos ímpios num mundo por vir, o ministério messiânico e a alternância do nascer do sol e do pôr do sol, etc, através das estações.62 Há muita coisa nele que leva a uma compreensão da teologia do N.T. e é um dos pseudo-epígrafos citado no N.T.(Jd 1.14,15).

I) A Assunção de Moisés - Alguns dizem que são dois, ao invés de um só livro, e que cada um tem um nome. A obra é uma profecia de tipo apocalíptica que teria sido escrita por Moisés e deixada para Josué, o seu sucessor. É datada entre o séc. 3 a.C. ao 30 d.C.63

O resumo do livro pode ser dividido assim: Moisés com 120 anos, profere um vaticínio aos ouvidos de Josué, que ele acaba de por como seu sucessor. Moisés transmite algumas instruções a respeito do mundo perante a Lei, Josué deve manter o escrito escondido. E ele próprio conduziria o povo até a terra prometida. Logo em seguida o livro narra a história do povo escolhido desde a entrada de Canaã até o fim dos tempos, isto é, a época do autor. No capítulo 6 fala da morte de Herodes e dá um resumo de sua vida. Fala que o templo ainda estava de pé. Em meio à suprema tribulação que agora desponta, e à corrupção dos costumes, surge Taxo, da tribo de Levi, o qual com seus sete filhos, prefere ser entregue à morte do que transgredir a Lei. Com tal sacrifício de si mesmo, ele espera provocar o aparecimento do Senhor, para trazer o julgamento de Deus contra os pecadores e a salvação a favor dos justos. Ele próprio, Moisés, quer se entregar ao descanso e Josué deve assumir o comando. Josué protela e declara que o sepultamento de Moisés deveria se estender a toda terra, para chegar a altura de sua grandeza. Josué se acha inferior, mas Moisés o exorta dizendo que a ordem é uma predeterminação de Deus. Depois o manuscrito é encerrado.64

A relevância teológica da obra mostra através da pessoa e dos vaticínios de Moisés, como sentia-se plasticamente, a praescientia et providentia Dei [presciência e providência de Deus], com tendências ao determinismo. As acusações contra os sacerdotes e fariseus, fazem recordam as recriminações do N.T. (Jesus) e informam, para além do que dizem o documento de Damasco, o Pesher de Naum, a respeito do grupo de Qumran, e iluminam a situação espiritual anterior à vida pública de Jesus. Merece particular interesse, sob este aspecto teológico, a perspectiva escatológica com que o fragmento se encerra.65

Os livros apócrifos e pseudo-epígrafos são muito úteis em vários aspectos, porem nestes livros a sua relevância teológica ficou em maior destaque, é claro que muitos deles não possuem relevâncias apenas teológicas, e sim, de outros classes também. Os próximos livros apócrifos e pseudo-epígrafos serão avaliados de acordo com suas relevâncias históricas, onde os mesmos contribuirão para uma compreensão de como fazia história na antigüidade dentro do contexto judaico, fatos históricos que os livros canônicos não narraram que têm muito a transmitir para a história bíblica.

2.3 A relevância histórica dos apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T.

Prova-se que os livros históricos apócrifos e pseudo-epígrafos não são unidades originas, mas compilações, se não por outros meios, ao menos, pelas referências diretas de fontes. Combinando o exame das categorias literárias com o conteúdo dos livros históricos, é possível perceber os diferentes tipos de narrativas, os quais novamente devem ser relacionados entre si e atribui-los a diferentes círculos. As obras de história nos apócrifos e pseudo-epígrafos possuem uma tendência para a admoestação que tem como propósito conservar Israel à altura de sua santa tarefa, é levada adiante em toda a historiografia de Israel e do judaísmo posterior. Floresce igualmente na indicação do judaísmo posterior de usar a narrativa folclórica e o romance histórico com fins devocionais como é o caso dos livros de Tobias e Judite. E isto por sua vez influencia a literatura sapiencial, por exemplo, descrição da história da Sabedoria em Sabedoria 10 e outros lugares. Em bom estilo antigo, I Macabeus, na linha da história da sucessão, é capaz de produzir uma obra edificante sem fazer uso de obras anteriores.66

A) O livro de I Macabeus - O autor é um judeu oriundo de Jerusalém, membro do partido dos Macabeus, porém não se pode dizer se é um fariseu, saduceu, ou até mesmo, alguém da família dos Macabeus.67

O resumo do livro pode ser sintetizado assim: Inicia com uma narrativa do período de aproximadamente um século após a conquista da Judéia pelos gregos sob o comando de Alexandre o Grande. Sem data ou autor definidos, nem no livro, nem em escritos antigos de outros autores. Provavelmente foi escrito entre os últimos anos do II séc. a.C. e antes de 63 a.C. Entretanto a narrativa histórica começa com a ascensão de Antíoco Epifânio e as medidas que tomou para reprimir a religião judaica. Conseqüentemente fala da resistência desenvolvida pelo sumo sacerdote Matatias. Relata a luta e a morte de Judas Macabeu. Fala ainda de Jônatas e Simeão, incluindo a morte deste.68

A relevância histórica do livro se dá porque, existem alguns aspectos no livro de I Macabeus de grande importância histórica que não podem ser ignorados. Devem ser considerados aqui as cartas esparsas cuja função de documentação e animação da narrativa histórica. São elas:
1) Carta dos judeus de Galaad a Jônatas e seus irmãos (5,10-13), 2) decreto que exalta a dignidade de sumo sacerdote dentro da família dos Asmodeus (14,27-45), 3)carta dirigi da pelo Senado romano ao povo judeu (8,23-32), 4) carta enviada pelos romanos aos reis e seus respectivos países (15,16-21), 5) carta de Jônatas aos espartanos (12,6-18), 6) carta do rei de Esparta ao sumo sacerdote Orias I (12,20-23)7) carta dos espartanos a Simão (14,20-23) 8) Demétrio I a Jônatas (10,3-6), 9) Alexandre Balas a Jônatas (10,18-20) 10) Demétrio a Jônatas (11,29-37), 11) Demétrio II a Jônatas (11,29-37), 12) Demétrio a Simão (13,36-40), 13) Antíoco VII Sídetesa Simão (15,1-9).69

O livro de I Macabeus é de grande relevância histórica também porque preenche a lacuna da história bíblica do A.T., pois o mesmo descreve eventos que ocorreram no período inter-bíblico, os quais entre os canônicos não aparece material histórico que descreva eventos durante este período.

B) A Carta de Aristéia - Conhecida também como a narração de Aristéia. Mesmo apresentando-se como sendo escrita por um autofuncionário do rei Ptolomeu Filadelfo (285-247 a.C.), ela não pode ter sido escrita antes do séc. II a.C. Esta carta é um produto de propaganda do judaísmo alexandrino, cujo propósito é pronunciar a tradução do Pentateuco para o grego. Possui bastante simpatia com o evangelho de Lucas e com o livro dos Atos dos apóstolos, pois ambos dão testemunho a seu respeito.70

O resumo do livro pode ser dividido assim: Inicia com uma lenda de origem heleno-judaica atribuída a um certo Aristéia que a teria escrito para Filócrates, descrevendo uma tradução para o grego das leis judaicas por setenta e dois tradutores enviados ao Egito de Jerusalém a pedido da biblioteca de Alexandria, o que teria resultado na tradução conhecida como Septuaginta. 71

A relevância histórica do livro ocorre porque atrás desta obra poderia estar a realidade de um interesse político por parte do Ptolomeus, análogo ao que existia da parte dos persas, na época de Esdras, no sentido de propor à comunidade judaica uma tradução comum e unitária do Pentateuco e declará-la depois de pronta e reconhecida pela comunidade, obrigatória para o Estado e para a comunidade de judeus, como codificação das 'leis recebidas dos pais'.72
Os livros citados acima tiveram um maior destaque à sua relevância histórica. Onde os mesmos permitem conhecer situações, eventos histórias que os livros canônicos não transmitiram, peculiaridades que ajudam a complementar a história inter-bíblica, sendo assim, permitem uma melhor visão dos livros canônicos.

Os próximos livros terão uma análise a partir da ótica de relevância cultural, cultura esta que é muito importante para pesquisa bíblica, pois através destes livros é possível conhecer um pouco da filosofia dos antigos hebreus, costumes da vida em geral, rituais religiosos etc. Tais livros são essências para o conhecimento judaico-cristão, para uma melhor compreensão cultural.

2.4 Relevância cultural dos apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T.

Para se falar de relevância cultural necessário é definir cultura, que vem a ser um "conjunto de experiências humanas (conhecimento, costumes, instituições, etc) adquirido pelo contato social e acumulado pelos povos através dos tempos."73 Uma obra com relevância cultural é aquela que em seu conteúdo demonstra grandes particularidades de uma cultura.

A) O livro de IV Macabeus - Também conhecido por Josefo como 'sobre a inferioridade da razão' por causa do seu conteúdo, mas Josefo o denomina como 'Sobre o logos racional' e 'livro de Josefo sobre os Macabeus'74
O autor é um judeu com bons conhecimentos da língua grega, da filosofia grega, contudo fiel à Lei.75

O resumo do livro pode ser dividido da seguinte maneira: O propósito do autor é apresentar uma questão de natureza inteiramente filosófica, a qual mostra que a razão piedosa é capaz de dominar os instintos. Por isso destaca os diversos domínios da ética e demonstra a excelência da razão através dos exemplos de grandes personagens da bíblia. O autor relata o poder da razão inspirada sobre a paixão e esta é dada através de um estudo da Lei. O seu conteúdo é quase estóico. O livro de IV Macabeus acaba com um louvor a Deus, que vinga as vítimas executadas.76

A relevância cultural do livro de IV Macabeus aparece pois relata de qual forma um judeu de formação helenística pode utilizar da cultura grega para dar base à sua fidelidade à Lei de seus pais. O fato de as virtudes da filosofia de Platão e da Estoa servirem para edificar a disposição ao cumprimento da Lei constituía um equívoco, unicamente possível porque a religião se transformara em lei, cujo cumprimento se identificava com o temor de Deus. A substituição da crença na ressurreição da carne para uma vida nova numa era de santidade e numa terra transformada pela doutrina da imortalidade da alma foi, na realidade, uma travessia completa para o pensamento grego.77

B) O livro dos Jubileus - No etíope, a obra traz, como título e subtítulo, a expressão mashafa Kufale. De fontes hebraicas conhecem-se as denominações de hyoblym e br'syt zwt', as quais equivalem em grego, os títulos de ta Iobelaia ou hói Iobekaior e helepte Génesis, também conhecido como pequeno Gênesis, porque parafraseia uma grande parte de Génesis e algumas do Êxodo.78
O resumo do livro pode ser sintetizado assim: Começa com um discurso de Javé a Moisés, onde este é convidado a escalar o monte e ali receber as duas tábuas de pedra contendo a Lei. Depois um anjo toma a palavra e, por ordem de Javé narra a história da criação até quando Moisés recebe a Lei.79

A relevância cultural do livro ocorre pois esta obra pressupõe o Pentateuco ou, pelo menos, o Gênesis e o submete a um processo de remanejamento a parafrástico no qual ele deriva uma enorme quantidade de determinações legais da Torah a partir de situações da história dos primórdios e da época dos patriarcas, situações que equivalem, em rigor, ao ideal do essênios. Relata, de que maneira um membro do grupo de Qumran podia interpretar o Gênesis e o livro do Êxodo, com o fim de neles encontrar uma confrontação para sua própria concepção da Lei.80 Este livro contém embelezamentos apócrifos e as passagens mais importantes são as histórias com as quais procura explicar as origens das leis e dos costumes judaicos contemporâneos no tocante às doenças.

C) Vida de Adão e Eva - Este escrito de origem judaica foi originalmente escrito provavelmente em torno de 70 a.C. Esta versão é atribuída a egípcios e não se sabe se se trata do original ou se foi copiada, traduzida ou alterada.81

O resumo do livro pode ser dividido assim: A história trata dos acontecimentos imediatamente posteriores à expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden e continua até a morte de Adão e depois de Eva. O livro também apresenta uma visão da queda da raça humana do ponto de vista de Eva.82

A relevância cultural do livro aparece porque mostra os ritos simples de sepultamento apresentados no livro, que são ordenados pelo arcanjo Miguel e apresentados de maneira, prática por anjos, talvez correspondessem a costumes essênios, que foram constatados no cemitério de Qumran.83

Os livros apócrifos e pseudo-epígrafos que foram examinados acima dentro do seu conteúdo demonstraram uma relevância cultural importantíssima para o esclarecimento do mundo bíblico do A.T., é claro que tais livros não são limitados apenas no foco cultural, contudo na sua literatura algo de maior relevância foi a parte cultural.
Passado as relevâncias teológicas, históricas, culturais cabe introduzir-se nos livros cujas relevâncias devocionais ficaram em destaque, que por sinal é uma das relevâncias principais no que tange a literatura religiosa, pois boa parte dos livros apócrifos e pseudo-epígrafos possuem um caráter de literatura edificante, ou seja, uma literatura que tem o objetivo de promover a devoção a Javé, a esperança, a piedade, etc.

2.5 Relevância devocional dos apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T.

Os apócrifos e pseudo-epígrafos possuem uma série de narrativas com propósito devocional. Estas narrativas com tendência religiosa e com forma edificante, tratam geralmente de pessoas santas, homens e mulheres piedosas, profetas ou sábios. Nos apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T. tais narrativas geralmente provêm de círculos judaicos de depois do exílio. Muitas dessas narrativas fazem sentir o espírito sadio e forte dos tempos antigos. Num estilo totalmente diferente mas solene, são contadas as narrativas sobre Daniel em Bel e o Dragão e a história de Suzana. Essas narrativas devocionais posteriores mostram muitas vezes a tendência de enfeitar a descrição com particularidades que têm por efeito produzir um quadro em que o ambiente e a história são um caos de idéias que provêm de diferentes tempos e culturas. Uma forma peculiar de narrativa devocional é a idéia de mártir. O sentido de mártir é testemunha de sangue. Narrativas desse tipo, que falam do martírio de seu herói, são bem populares nos apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T. Por exemplo II Macabeus(6-7), IV Macabeus(5 e 8-12), e o martírio de Isaías.84

A) O livro de Eclesiástico - Sua autoria é atribuída a alguém chamado Jesus, filho de Sirach. As suposições para a sua data de escrita variam enormemente indo de 247 a.C. a 132 a.C. O livro é formado por reflexões pessoais do autor e teria sido transcrito por seu neto.85

O resumo do livro pode ser dividido assim: Inicia com um prólogo, que não é considerado canônico mas tem muita importância, porque indica a data da composição e da tradução do mesmo. O livro fala do respeito pelo templo e pelos sacerdotes, fala sobre o destino humano e o problema das sanções, demonstra fé na retribuição, sente a importância trágica da morte, entretanto não sabe como Javé pagará a cada um segundo os seus atos. O autor prega a sabedoria que vem de Javé, seu princípio e o temor a Javé e que ela forma a juventude e leva-a à felicidade. Ainda contém dois apêndices que são acréscimos: um hino de ação de graças (51.1-12), e um poema sobre a busca da sabedoria (51.13-30).86

A relevância devocional do livro de Jesus Ben Sirac aparece porque vê no Deus de Israel o condutor da história, o dispensador da sabedoria e o justo juiz. Depende do homem procurar a verdadeira sabedoria que honra a Deus de maneira lícita. Para tanto é que lhe foi transmitido a vida, porque a morte interrompe a relação com Deus. Por causa disso o justo pode também esperar que lhe seja concedida a recompensa, já nesta vida pela sua boa conduta, a qual só foi possível graças à sabedoria, ao passo que o pecador e o negador de Deus serão objetos de punição.87

B) O livro de Baruc - Livro é atribuído a Baruc, o escrivão de Jeremias, e foi pretensamente escrito na Babilônia.88

O resumo do livro pode ser feito assim: Depois da deportação é enviado para Jerusalém com a finalidade de ser lido nas assembléias litúrgicas e nos dias de festas. Traz confissões de pecados, clamor por misericórdia, uma exaltação à sabedoria e uma mensagem aos cativos.89

A relevância devocional em Baruc aparece na concepção de um judaísmo tardio, segundo a qual a Lei é a quintessência da sabedoria e o fato de ela ter sido transmitida ao povo de Israel demonstra a graça de Deus para como eles, isto aparece mais na segunda parte do livro. Nesta obra parece ainda não existir uma crença na vida além-túmulo. Em compensação, espera-se para breve uma mudança nos acontecimentos.90

C) A Carta de Jeremias - O resumo da carta pode ser sintetizado da seguinte maneira: Trata-se de uma dissertação apologética contra o culto aos ídolos. A idolatria que se refere é a da Babilônia em época tardia.100

A Relevância devocional da carta de Jeremias aparece trabalha com o perigo que cerca àqueles aos quais se destina a exortação, pelo fato de estarem nivelando o paganismo por via de assimilação. A obra possui um caráter irônico a respeito de situações de sofrimento e angústia que está por trás da apostasia. Procura-se estigmatizar menos o pecado do que fustigar a idolatria.101

D) O livro de I Macabeus - O livro I Macabeus além de possuir uma relevância histórica possui também relevância devocional. Pelo exemplo de um simples sacerdote de província, com seu apego à Lei e ao modo de vida de seus ancestrais, conclama o povo a resistência e o liberta, concluindo sua obra na pessoa de seus filhos. O livro mostra também que a fidelidade à Lei, retamente interpretada, é recompensada por Deus.102

E) Adições a Ester - Estas adições são produtos de um fariseu que tenta tornar o livro mais devocional. Aparecem em textos em grego, incluídos junto aos textos originais em hebraico. Há adições aos capítulos 1, 3, 4, 5, 8, 9 e 10.103
Esta obra pode ser resumida assim:
1) 1:1a-1r: são preliminares que falam sobre o sonho que Mardoque teve sobre a conspiração contra o rei,
1) 3:13a-13g: edito sobre o extermínio dos judeus,
2) 4:8a,8b: cópia do edito do extermínio publicado em Susã,
3) 4:17a-17z: oração de Mardoque e oração de Ester,
4) 5:1a-1f: Ester diante de Artaxerxes,
5) 5:2a,2b: relato de quando Ester fala com o rei,
6) 8:12a-12x: edito em favor dos judeus,
7) 10:3a-3k: menção do nome do tradutor.104

A relevância devocional nos acréscimos de Ester visa atender por um lado, a perguntas do leitor e, por outro, aumentar a sua importância devocional e para isso introduz o nome de Iahweh e dá detalhes precisos no lugar das declarações resumidas que o texto canônico apresenta.105

F) Adições a Daniel - Textos em grego, incluídos junto aos textos originais em hebraico. São os versos 24-90 do capítulo 3 (Cântico dos três jovens), e os capítulos 13 (história de Suzana) e 14 (Bel e o dragão).106

G) Cântico dos três jovens - O resumo da oração de Azarias e dos três jovens é um cântico de lamentação coletivo, que pode ser resumido assim: Começa com um louvor à grandeza e à justiça de Javé, é seguido de uma confissão de pecados e de uma descrição de calamidade em que se acham. Há um trecho em prosa que trata de como se fez o aquecimento da fornalha e como o anjo do Senhor fez com que o calor se tornasse uma brisa fresca.107

A relevância devocional do acréscimo aparece pois ilustra o Salmo 50,15: 'Invoca-me no dia da tribulação, e eu te libertarei e tu me glorificarás'."108 Transmite uma idéia bem clássica a da providência divina nos momentos de maior calamidade do justo que clama a Deus.

H) A história de Suzana - O resumo da obra pode ser feito da seguinte maneira: Suzana é extremamente formosa e excita dois anciãos, cujos intentos e avanços são repelidos por ela. Entretanto os dois acusam-na, injustamente, de adultério e por isso é condenada à morte. Então um anjo chama Daniel para contradizê-los e este interroga a cada um separado e mostra o falso testemunho. Finalmente os anciãos são condenados à morte, lançados de um despenhadeiro e são atingidos por um raio divino.110

A relevância devocional em relação a esta história é bem provável que possua também um pano de fundo histórico. Pois esta história mostra a superioridade do método utilizado pelos jovens, que exige o interrogatório em separado das duas testemunhas, diferente do método dos antigos, o qual considera a concordância de duas testemunhas como suficiente. Nesta história Daniel é colocado como o sábio implantando tal método.111

I) Bel e o Dragão - A obra pode ser resumida assim: O rei questiona a Daniel porque ele não adorava Bel que era um Deus vivo e sempre comia as oferendas deixadas no templo pelos sacerdotes. Daniel faz uma prova com o rei e manda selar o templo com o anel do rei, mas antes manda espalhar cinzas no chão sem que os sacerdotes soubessem. Ao abrirem as portas no dia seguinte vêem que os alimentos foram comidos, mas também percebem que há várias pegadas no chão e os sacerdotes são mortos e o Deus Bel é destruido. Entretanto o rei novamente leva Daniel para conhecer outro Deus, um dragão vivo e Daniel pede para destruí-lo sem usar armas. Faz um tipo de veneno que destrói o dragão. O povo revoltou-se e lançou Daniel na cova, onde ficou por 7 dias com 7 leões e foi alimentado miraculosamente por Habacuque e ao término dos 7 dias é retirado vivo da cova, como na história contida no livro canônico.112
A relevância devocional nestes relatos aparece porque o autor tem como objetivo nestas duas narrativas, mostrar que as divindades pagãs devem seu culto ao embuste dos sacerdotes e não têm vida. O qual levou a Teodocião, a comentar que a questão base destes relatos é a da existência do Deus vivo.113
J) A Oração de Manassés - A oração reflete a verdadeira piedade dos fariseus por volta da época de Jônatas 150 a.C. aproximadamente. Ela pode ser resumida assim: É um curto escrito de 15 versos que relata uma oração de penitência do rei Manassés de Judá enquanto esteve preso pelos assírios. O rei Manassés é registrado pela Bíblia como sendo um dos reis mais idólatras de Judá em todos os tempos (II Rs 21.1-18), mas quando foi tomado cativo pelos assírios, se arrepende e clama misericórdia a Deus (II Cr 33.10-17). Este livro pretende reproduzir a oração de Manassés a Deus neste momento.114

Esta oração foi introduzida por frases que lembram II Cr 23,11-14. A relevância devocional deste salmo penitencial surgiu, com a ampliação, de caráter devocional, desta opinião cronística, sob uma maneira da tradição que não chegou até os dias atuais, como relato de conversão e como modelo da verdadeira penitência.115

L) O livro de III Esdras - É também conhecido como I Esdras, ou Esdras canônico isto devido às suas divisões ocorridas nas bíblias LXX e Vulgata. É datado de 200 a 150 a.C.116
Esta obra segue a narrativa bíblica de II Cr 35 até Ed e Ne. Pode ser resumida assim: A seção 3.1-5.6 supostamente é uma nova narração da construção do templo e as narrativas históricas dos reis persas estão invertidas. Há também a narrativa dos três pajens que participaram de uma grande festa promovida pelo rei Dario I. Sendo responsáveis pela segurança do sono do rei resolvem que cada um escreverá em segredo aquilo que considerar como o mais poderoso. Na manhã seguinte o rei decidiria quem seria o vencedor do torneio. Dois dos pajens escreveram que eram as mulheres, o vinho, mas o terceiro (Zorobabel) escreveu que a verdade é o quarto elemento mais poderoso e ganha o torneio. Este então, pede a Dario para voltar ao seu país e reedificar o seu templo.117

A relevância devocional nesta narrativa em si tem por fim colocar em realce o valor da sabedoria que é capaz de granjear as graças de soberanos pagãos, podendo, desta maneira, cooperar no sentido de promover o serviço religioso.118
M) Os Salmos de Salomão - É uma coletânea de 18 hinos, semelhantes aos Salmos canônicos, o autor é um fariseu, por causa de suas tendências pietistas, suas idéias políticas, escatológicas e o elogio aos pobres.119

O resumo do livro pode ser feito assim: Os Salmos descrevem a figura do justo piedoso que se mantém fiel à Lei, do perverso que se desvia da Lei, bem como seus respectivos destinos, relatam o castigo descarregado sobre toda a nação por Pompeu cujos cativos para o Ocidente, e esperam o início iminente da era da salvação.120

A relevância devocional dos Salmos de Salomão proporcionam uma visão do mundo das idéias religiosas da segunda metade do séc. I a.C., ou especificamente, de um grupo que se aproxima dos fariseus e se mantém fiel ao templo, sem, entretanto, dar ênfase ao ministério do templo e ao culto sacrificial. A prática fiel da Lei, pelo contrário, consiste num comportamento agradável aos olhos de Deus, comportamento que, todavia, não se confunde com a observância legal isolacionista da gente de Qunram.121

N) Os Testamentos dos Doze Patriarcas - Este livro traz os últimos desejos dos doze filhos de Jacó. É considerado como literatura apocalíptica judaica. Os testamentos foram escritos em hebraico, provavelmente no final do II séc. a.C. ou início do I, sendo que estudos recentes apontam para uma data entre 135 e 63 a.C. Tudo indica que teve um único autor, provavelmente um fariseu. Mas, sofreu edição posterior e interpolação de material de origem cristã em seu texto original.122

O resumo do livro pode ser sintetizado assim: Cada testamento tem o seguinte esquema literário: uma introdução pseudo-histórica (midrash agádico sobre a vida do patriarcas conforme o livro de Gn, variações e adições iguais às do livro dos Jubileus), uma grande seção parenética (aplicação e transposição em lições morais da evocação histórica que precede), uma conclusão breve, messiânica e apocalíptica. A única exceção deste esquema é para Gade, cujo conteúdo é uma profecia sobre o futuro da tribo, com uma admoestação a observância à Lei, a ser submisso a Judá e mais ainda a Levi. Na 2ª seção, que é a mais importante para o autor, há uma espécie de tratado moral que atesta o ideal elevado que inspirava o grupo qual ela provém. Rubem fala de sete espíritos implantados no coração do homem e que agem em presença e em união com uma mulher e, por fim, Rubém recomenda obediência a Levi, Simeão acusa-se de ter se irado contra Judá por este não querer matar José, mas vendê-lo, exorta contra a inveja e termina falando que surgirão dois Messias um da tribo de Levi e outro de Judá, Levi fala de dois sonhos, um é uma viagem através dos sete céus e o outro a sua investidura como sacerdote pelas mãos de sete homens vestidos de branco. Exorta contra a soberba, convida a prestar honras ao sacerdote Messias. Judá exorta contra o vinho e amar a Levi e termina com um perspectiva da era da salvação; Issacar exalta a sua própria simplicidade e a recomenda aos seus descendentes; Zebulom exorta à compaixão e à misericórdia, esperando a aparecimento final do Senhor. Dã exorta contra a mentira e a iracúndia e também espera o aparecimento dos Messias oriundos de Judá e Levi; Naftali louva a Javé como o Deus da ordem e conta dois sonhos e termina com exortação à bondade; Gade exorta contra o ódio e convida a esperar o julgamento de Javé; Assar fala de dois caminhos que Javé propôs aos homens; José recomenda a sua castidade diante da egípcia, aos seus filhos; Benjamim exorta a cultivar a pureza de intenção.123
A relevância devocional em destaque são a dos Testamentos de Levi e Naftali as quais mostram a estima em que era tida a hermenêutica dos sonhos e como estava persuadido de que se podia ler a sorte futura dos homens através dos sonhos, sendo aí a repetição similar de um sonho uma prova da importância e da verdade do que fora contemplado. Nos demais, os Testamentos contêm discursos exortativos que, embora tocados pelo sopro do espírito da comunidade de Qumran, são isentos de muitas de suas peculiaridades, tais como a estrita observância à Lei, a insistência na posse do verdadeiro calendário festivo, a estima que se tinha pelos banhos de imersão, etc.124

O) A Vida de Adão e Eva - A relevância devocional das histórias a respeito de Adão tem por propósito completar a exposição bíblica em sentido devocional. Elas narram que uma penitência séria ajuda a vencer as tentações que o homem sofre por parte de Satanás, cuja queda está em ligação com a criação de Adão. Mostram, igualmente, a mulher como sendo o sexo mais facilmente exposto à tentação.125
P) Ascensão de Isaías - Este livro é datado do II séc. d.C. e foi compilado por um estudioso cristão do qual nada se sabe. O texto tem três partes distintas, sendo que a primeira parece ter sido escrita por um autor judeu e as outras duas por autores cristãos. A primeira parte, normalmente chamada de o Martírio de Isaías. No meio desta narrativa foi inserido um apocalipse cristão conhecido como o Testamento de Ezequias. A segunda parte do livro se refere à Visão de Isaías e sua jornada assistido por um anjo.126

O livro pode ser resumido assim: Os capítulos 1, 1-2a.6b-13a; 2, 10-3, 12; 5, 1b, -14b fala como Ezequias repreendeu seu filho Manassés na presença de Isaías. Este o interrompe e prediz os futuros pecados de Manassés e o seu próprio martírio por ordem de Manassés. Com a morte de Ezequias, Manassés assume o trono e passa a adorar a Belial e inicia a apostasia a Javé. Durante um culto ao novo Deus, Isaías retira-se para Belém e depois vai para o deserto de Judá, onde Miquéias, Joel, Habacuque e um outro se reúnem em torno dele. Eles passam a vestir peles de animais e a comerem legumes silvestres colhidos pelos próprios. O esconderijo de Isaías é descoberto e Manassés o prende, encerra-o numa prisão e o mata serrando-o ao meio.127

A relevâcia devocional desta lenda, que depende talvez de sagas iranianas (o serramento de Jima, que se refugiara no interior de uma árvore, por parte da serpente tricéfala Azhidahaka), pertence à série das lendas de mártires da época dos Macabeus, tal como a história dos três jovens na fornalha ardente, de Daniel na cova dos leões ou dos sete irmãos do IV livro dos Macabeus, e tem por objetivo mostrar que mesmo profetas, tais como Isaías, não ficaram isentos de falsas acusações e, inclusive, do martírio, mas permaneceram fiéis a Javé nestas tribulações.128

Estes foram os principais livros apócrifos e pseudo-epígrafos A.T. onde a sua característica principal é a relevância devocional tanto para os leitores da antigüidade quanto para os leitores modernos.

Mediante toda a abordagem que foi realizada neste capítulo, onde são abordadas as relevâncias teológicas, históricas, culturais e devocionais dos principais livros apócrifos e pseudo-epígrafos o leitor despido de seus preconceitos pode perceber a qualidade, criatividade e a devoção que muitos dos livros citados foram escritos. Depois desta 'viagem' pelos principais livros apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T. surge uma questão inevitável a respeito destes livros que é sobre a sua inspiração. Por que estes livros não são inspirados? Poderia alguns deles serem inspirados e não foram aceitos no cânon? A leitura superficial de alguns apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T. é possível perceber que tais livros não fugiram da teologia judaica do A.T. Então por que não são inspirados? Mediante tal indagação é necessário desvendar o problema da inspiração dos apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T.




III. O PROBLEMA DA INSPIRAÇÃO.


O problema da inspiração não é só um problema para os livros apócrifos pseudo-epígrafos do A.T., mas para muitos dos demais canônicos também como disse Renan:
Essa teoria da inspiração, implicando um fato sobrenatuaral, torna impossível a manuntenção da presença de idéias seguras do bom senso moderno. Um livro inspirado é um milagre. Deveria apresentar-se em condinções em que nenhum livro se apresenta.129


O grande problema a respeito da inspiração recai justamente como está no texto citado de Renan na má definição, ou melhor, na compreensão de inspiração, onde a mesma é apenas ação divina de forma ditacional, sem possibilidades da interação humana.

Richard Simon, contemporâneo de Spinoza, ao falar da inspiração do profeta diz o seguinte: "A inspiração da informação da inteligência, da mente, da ação, da vontade, de todo o ser do profeta,"130logo inspiração também vem a ser uma interação entre o divino e o humano, onde o humano na sua relação com o divino consegue extrair algo supraterreno e assim aquilo que produz é inspirado.

Uma compreensão da problemática da inspiração é fundamental, pois o assunto da inspiração de livros religiosos sofreu grandes críticas por teólogos e filósofos no período moderno131, o que gerou uma deformação a respeito do que é inspiração, logo, o conhecimento de sua origem etimológica, semântica da palavra inspiração dentro do contexto bíblico cooperará para uma melhor compreensão.

3.1 Definição de inspiração.

A palavra inspiração deriva do latim inspiro, esta palavra pode ser dividida em duas partes a primeira "in-em, dentro, sobre"132e a segunda "spiro-soprar, exaltar um sopro, exalar um cheiro, respirar, e daí, em sentido figurado: estar animado, viver, está inspirado, respirar."133Inspirar é um sopro para dentro, spiro também pode ser espírito, onde tal influência veio do grego e do hebraico. A palavra inspiração no grego é theopneutos,134 onde o teólogo Grudem diz que prefere a tradução inglesa NIV (New Internacional Version) que traduz com este sentido do grego 'soprada por Deus.'135E este sentido está em concordância com a palavra hebraica para inspiração que é Ruha 'elohim136 que também é traduzida por vento, sopro de Deus. Inspiração seria então o sopro do espírito de Deus dentro do homem lhe conferindo a capacidade de produzir algo; em relação as escrituras seria a capacidade de escrever ou falar em nome de Deus.
Sendo compreendido a palavra inspiração e suas implicações etimológicas, semânticas e teológicas é necessário inserir a idéia de inspiração dentro do contexto dos apócrifos e pseudo-epígrafos para efetuar uma resposta a respeito de sua inspiração.

3.2 Resposta a respeito da inspiração dos pseudepígrafos do A.T.

O N.T. faz menção de livros pseudepígrafos no livro de Judas pelo menos aparecem algumas alusões e citações dos livros: a Assunção de Moisés, Testamento dos doze Patriarcas e o livro de Henoc, em II Timóteo 3.8 chega aludir à penitência de Janes e Jambres. A maioria dos autores vão dizer que as alusões ou citação de Jd de textos pseudo-epígrafos não são mencionados como dotados de autoridade e sim como Paulo faz citações de poetas não-cristãos. Contudo tal posicionamento torna-se irrelevante, pois como negar a autoridade atribuído a este texto de Judas:
A respeito deles, profetizou Henoc, o sétimo dos patriarcas a contar de Adão, quando disse: Eis que o Senhor veio com as suas santas milícias exercer o julgamento sobre todos os homens e argüir todos os ímpios de todas as obras de impiedade que praticaram e de todas as palavras duras que proferiram contra ele os pecadores ímpios.137

A palavra profeta no hebraico é nabî que quer dizer porta-voz. O nabî no A.T. tinha "a função de expressar revelações vindas do espírito de Deus."138Então se o texto diz que Henoc profetizou logo o mesmo é profeta, sendo assim porta-voz de Deus e o que ele fala é as palavras de Deus. Isto torna-se um problema para a aceitação do livro Judas como canônico e outro problema por causa da não aceitação no cânon dos livros pseudo-epígrafos citados em Jd.

Algo que contribui para um norteamento a respeito de uma posição equilibrada em relação aos pseudo-epígrafos além, da compreensão da possibilidade de inspiração, é a respeito de sua natureza. Onde a qualidade literária e seu conteúdo textual de alguns pseudo-epígrafos são questões chave para um posicionamento coerente.

3.2.1 A natureza dos pseudo-epígrafos do A.T. - Muitos pseudepígrafos do A.T. contêm alguns extremos da fantasia religiosa judaica expressos entre 200 a.C. e 200 d.C. Alguns desses livros são inofensivos, teologicamente, mas outros contêm grandes problemas teológicos, principalmente os de origem helênico/judaico. O caráter altamente fantasioso dos acontecimentos e os ensinos questionáveis (e até mesmo heréticos), levaram os pais do judaísmo a considerá-los espúrios. Os pseudo-epígrafos refletem o estilo literário vigente num período muito posterior ao encerramento dos escritos proféticos, de modo que muitos imitam o estilo apocalíptico de alguns canônicos no que tange aos seus sonhos, visões e revelações.139Exemplos desta prática de imitação literária, aparece nos livros dos Salmos de Josué e uma oração de Nabônides, encontrados nas cavernas de Qunram, onde paralelamente a essas imitações, os livros canônicos foram utilizados na composição de 'floriléfios', que reúnem textos com um mesmo tema inspirador e foram objeto de comentários de caráter polêmico.140

Algumas normas de inspiração do A.T. foram desenvolvidas como: as declarações proféticas eram escritas, os escritores do A.T. eram profetas, manteve-se um registro oficial dos escritos proféticos, estas são algumas normas elaboradas para a reivindicação da inspiração do A.T. a maioria dos teólogos conservadores trabalham com estas teorias para negar a inspiração dos pseudo-epígrafos. Contudo alguns pseudo-epígrafos também fazem tais reivindicações principalmente os apocalípticos.

A respeito da inspiração dos pseudo-epígrafos do A.T. não apareceram grandes defesas de teólogos a seu favor, embora alguns livros são citados diretamente como escritura inspirada no livro de Judas, em relação aos apócrifos do A.T. as reivindicações a respeito de sua inspiração possui uma maior defesa comparando-se aos pseudo-epígrafos, isto, ocorre pelo fato de a igreja Católica Romana ter canonizado um grupo maior de livros apócrifos do que os protestantes, onde a sua influência mundial cooperou para um maior número de argumentos da inspiração dos apócrifos do A.T.

3.3 Resposta aos argumentos a favor da inspiração dos apócrifos do A.T.

Ao decorrer dos séculos vários argumentos foram levantados para aceitação dos apócrifos do A.T. alguns argumentos coerentes outros não. Dentre os argumentos criados para aceitação dos apócrifos do A.T. existe aqueles que mais se destacaram ou melhor, argumentos que em primeira instância parecem fortes, contudo precisam ser analisados melhor. Os argumentos que parecem a seguir são aqueles que mais se destacaram no debate sobre aceitação dos apócrifos do A.T.

A) O N.T. e os apócrifos - Pode haver no N.T. alusões aos apócrifos, mas não há nenhuma citação definitiva de qualquer livro apócrifo aceito pela Igreja Católica Romana. Há alusões aos livros pseudo-epígrafos que são rejeitadas por católicos romanos e protestantes, tais como Ascensão de Moisés (Jd 9) e o Livro de Henoc (Jd 14,15). Também há citações de poetas e filósofos pagãos (At 17.28; I Co 15.33; Tt 1.12). Nenhuma dessas fontes é citada como Escritura, nem possui autoridade (com exceção do livro de Henoc). O N.T. simplesmente faz referência a verdades contidas nesses livros. Teólogos católicos romanos concordam com essa avaliação. O N.T. jamais se refere a qualquer documento fora do cânon como autorizado.

Nenhuma parte do N.T. cita qualquer livro apócrifo com aquela expressão básica atribuindo autoridade inspirativa "Ainda não lestes esta Escritura" (Mc 12.10), "Hoje se cumpriu esta Escritura" (Lc 4.21), "Está escrito" (Mt 4.4), em nenhum destes casos ou semelhantes refere-se a livros apócrifos.

B) A LXX e os apócrifos - O fato de o N.T. citar várias vezes outros livros do A.T. grego não prova de forma alguma que os livros deuterocanônicos que ele contém sejam inspirados. Não é sequer um fato comprovado que a LXX do séc. I contivesse os apócrifos. Os primeiros manuscritos gregos que os incluem datam do século IV d.C. Mesmo que esses escritos estivessem na LXX nos tempos apostólicos, Jesus e os apóstolos jamais os citaram, apesar de supostamente estarem incluídos na mesma versão do A.T. geralmente citada.141

C) Usados pelos pais da igreja - Citações dos pais da igreja para apoiar a canonicidade dos apócrifos são seletivas e enganadoras. Alguns pais pareciam aceitar sua inspiração; outros os usavam para propósitos devocionais e homiléticos (pregação), mas não os aceitavam como canônicos.142

Alguns indivíduos da igreja primitiva valorizavam muito os apócrifos; outros se opunham com veemência a eles. O comentário de J.D.N. Kelly de que para a grande maioria dos pais, as escrituras deuterocanônicas se classificavam como Escritura no sentido completo está fora de sintonia com os fatos. Atanásio, Cirilo de Jerusalém, Orígenes e o grande teólogo católico romano e tradutor da Vulgata, Jerônimo, todos se opunham à inclusão dos apócrifos. No séc. II d.C, a versão síriaca (Peshita) não continha os apócrifos.143 Um especialista nos apócrifos, Roger Beckwith, observa:
Quando examinamos as passagens dos primeiros pais que supostamente deveriam estabelecer a canonicidade dos apócrifos, descobrimos que algumas delas são tiradas do grego alternativo de Ed (I Ed) ou de adições ou apêndices de Dn, Jr ou algum outro livro canônico, e que não são muito relevantes; descobrimos ainda que, dentre as que são, muitas não dão qualquer indício de que o livro seja considerado Escritura. 144


Alguns teólogos católicos romanos tentam argumentar que a Epístola de Barnabé 6.7 e Tertuliano, Contra Marcião 3.22.5, citam Sabedoria 2.12, contudo a citação é de Is 3.10, e que Tertuliano, em De anima (Da alma) 15, cita Sabedoria 1.6, porém a referência é de Sl 139.23, como a comparação entre as passagens demonstra. Da mesma forma, Justino Mártir, Diálogo com Trifão 129, claramente não cita Sabedoria, e sim Pv 8.21-25. Chamar Pv de Sabedoria está de acordo com a nomenclatura comum dos pais. Geralmente, nas referências, os pais não estavam afirmando a autoridade divina de nenhum dos onze livros canonizados em Trento. Citavam, apenas, uma obra bem conhecida da literatura hebraica ou um escrito devocional ao qual não davam nenhuma probabilidade de inspiração do Espírito Santo.145

D) Livros nos manuscritos gregos - Nenhum dos grandes manuscritos gregos (Álef, A e B) contém todos os livros apócrifos. Tobias, Judite, Sabedoria e Eclesiástico são encontrados em todos eles, e os manuscritos mais antigos (B e Vaticano) excluem totalmente Macabeus. Mas a igreja Católica Romana utiliza-se deste manuscrito para apoiar sua posição. Além disso, nenhum manuscrito grego contém a mesma lista de apócrifos aceita em Trento.146

E) Temas apócrifos na arte das catacumbas - Muitos teólogos católicos também admitem que as cenas das catacumbas não provam a canonicidade dos livros cujos eventos retratam. Tais cenas indicam o significado religioso que os eventos retratados tinham para os cristãos primitivos. No máximo, demonstram respeito pelos livros que continham esses eventos, não o reconhecimento de que fossem inspirados.147

F) Aceitação pelos primeiros concílios - Esses foram concílios locais e não eram impostos à igreja toda. Concílios locais geralmente erravam nas suas decisões e mais tarde eram anulados pela igreja universal. Alguns apologistas católicos argumentam que, mesmo que um concílio que não seja ecumênico, seus resultados podem ser impostos se forem confirmados. Mas reconhecem que não há maneira de saber quais afirmações dos papas são infalíveis. Na verdade, admitem que outras afirmações dos papas são até heréticas, tais como a heresia monelita do papa Honório I. Também é importante lembrar que esses livros não são parte das Escrituras cristãs (período do N.T.). Encontram-se, assim, sob a jurisdição da comunidade judaica que os compusera e que, séculos antes, os rejeitara como parte do cânon. Os livros aceitos por esses concílios cristãos podem até não ser os mesmos em cada caso. Portanto, não podem ser usados como prova do cânon exato mais tarde proclamado infalível pela Igreja Católica em 1546. Os Concílios locais de Hipona e Cartago no Norte da África foram influenciados por Agostinho, a voz mais importante da antigüidade, que aceitava os livros apócrifos canonizados mais tarde pelo Concílio de Trento. Mas a posição de Agostinho é infundada: 1º O próprio Agostinho reconheceu que os judeus não aceitaram esses livros como parte do cânon (A cidade de Deus, 19.36-38). 2º Sobre os livros dos Macabeus, Agostinho disse: 'tidos por canônicos pela igreja e por apócrifos por judeus. A igreja assim pensa por causa dos terríveis e admiráveis sofrimentos desses mártires'(Agostinho, 18.36). Nesse caso, O livro dos mártires, de Foxe, deveria estar no cânon. 3º Agostinho era incoerente, já que rejeitou livros que não foram escritos por profetas, mas aceitou um livro que parece negar ser profético (I Macabeus 9.27). 4º A aceitação errada dos apócrifos por Agostinho parece estar ligada a sua crença na inspiração da LXX, cujos manuscritos gregos mais recentes os continham. Mais tarde Agostinho reconheceu a superioridade do texto hebraico de Jerônimo comparado ao texto grego da LXX. Isso deveria tê-lo levado a aceitar a superioridade do cânon hebraico de Jerônimo também.148

O Concílio de Roma em 392 d.C. aceitou os livros apócrifos não incluiu os mesmos livros aceitos por Hipona e Cartago. Ele não inclui Baruque, apenas seis, não sete, dos livros apócrifos declarados canônicos mais tarde. Até Trento o descreve como livro separado. 149
G) Aceitação pela Igreja Ortodoxa - A igreja grega nem sempre aceitou os apócrifos e sua posição atual não é inequívoca. Nos Sínodos de Constantinopla em 1638, Jafa em 1642 e Jerusalém em 1672 esses livros foram declarados canônicos. Mesmo até em 1839, no entanto, seu Catecismo maior omitia expressamente os apócrifos porque não existiam na Bíblia hebraica.150

H) Aceitação nos Concílios de Florença e Trento - No Concílio de Trento em 1546 a proclamação infalível foi feita aceitando os apócrifos como parte da Palavra inspirada de Deus. Alguns teólogos católicos afirmam que o Concílio de Florença, anterior a Trento em 1442 fez a mesma declaração. Mas esse concílio não afirmou nenhuma infalibilidade, e a decisão do concílio também não tem nenhuma base real na história judaica, no N.T. ou na história da igreja primitiva. A decisão de Trento veio num milênio e meio depois de os livros serem escritos e foi uma polêmica óbvia contra o protestantismo. O Concílio de Florença proclamou que os apócrifos eram inspirados para apoiar a doutrina do purgatório que havia surgido. Mas as manifestações dessa crença na venda de indulgências chegaram ao ponto máximo na época de Martinho Lutero, e a proclamação de Trento sobre os apócrifos era uma contradição clara ao ensino de Lutero.151

I) Livros apócrifos nas versões protestantes - Os livros apócrifos apareceram em versões bíblicas protestantes antes do Concílio de Trento e geralmente eram colocados numa seção separada porque não eram considerados de igual autoridade. Apesar de anglicanos e alguns outros grupos não-católicos terem sempre dado muita importância ao valor inspirativo e histórico dos apócrifos, nunca os consideraram de origem divina e autoridade igual a das Escrituras. Até teólogos católicos durante o período da Reforma distinguiam entre o deuterocânon e o cânon. O cardeal Ximenes fez essa distinção na sua imponente Bíblia, a Poliglota complutense escrita de 1514 a 1517 às vésperas da Reforma. O cardeal Cajetano, que depois se opôs a Lutero em Ausburgo, em 1518, publicou, depois da Reforma ter começado, o Comentário sobre todos os livros históricos autênticos do Antigo Testamento em 1532, que não continha os apócrifos. Lutero falou contra os apócrifos em 1543, incluindo tais livros no fim da sua Bíblia.152

J) Livros apócrifos em Qumran - A descoberta dos rolos do mar Morto em Qumran não incluía apenas a Bíblia da comunidade (o A.T.) mas também sua biblioteca, com fragmentos de centenas de livros. Entre eles se achavam alguns livros apócrifos e apenas livros canônicos serem encontrados em pergaminhos e escritos especiais indica que os apócrifos não eram considerados canônicos pela comunidade de Qumran. Menahem Mansur alista os seguintes fragmentos dos apócrifos e dos livros pseudo-pígrafos: Tobias, em hebraico e aramaico; Henoc, em aramaico; Jubileus, em hebraico; Testamento de Levi e Naftali , em aramaico; literatura apócrifa de Daniel, em hebraico e aramaico; e Salmos de Josué. O especialista em manuscritos do mar Morto, Millar Burroughs, concluiu: 'Não há motivo para acreditar que algumas dessas obras fosse venerada como Escritura Sagrada.' No máximo, tudo o que os argumentos usados em favor da canonicidade dos livros apócrifos provam é que vários livros receberam níveis variados de aceitação por pessoas diferentes na igreja cristã, geralmente não atingindo a confirmação de sua canonicidade. Só depois de Agostinho e dos concílios locais que ele dominou declararem-nos inspirados é que começaram a ser usados e, por fim, receberam aceitação infalível da Igreja Católica Romana em Trento. Isso ainda não atinge o tipo de reconhecimento inicial, contínuo e total entre as igrejas cristãs dos livros canônicos do A.T. protestante e da Torá judaica (que exclui os apócrifos).153

Os argumentos contra a inspiração dos apócrifos do A.T. são fortíssimos mesmos que alguns teólogos católicos romanos tentarem realizar uma relação entre o N.T. e os apócrifos do A.T., a LXX e os apócrifos A.T., o argumento que foram usados pelos pais da igreja, o argumento que os apócrifos do A.T. aparecem nos manuscritos gregos mais antigos, o argumento que os apócrifos são temas na arte das catacumbas, que foram aceitos pelos primeiros concílios, aceitos também pela Igreja Ortodoxa, aceitos nos Concílios de Florença e Trento, o argumento que os apócrifos aparecem em algumas versões protestantes, e por fim que aparecem também junto com os livros das cavernas de Qumran. Tais argumentos não foram suficientes para defender a inspiração dos apócrifos do A.T.
Será que com todas estas controvérsias a respeito dos apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T. poderia alguns deles possuir inspiração divina? Poderia ser apenas os pais judaicos e os pais da igreja os únicos a terem a capacidade divina de escolherem os livros inspirados? Alguns apócrifos e pseudo-epígrafos poderiam ter ficado de fora do cânon por acidente? Pode existir inspiração fora do cânon bíblico? Estas são algumas perguntas libertadoras de uma mentalidade ortodoxa em relação aos apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T. que precisam de uma resposta coerente e equilibrada.

3.4 Alguns apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T. podem conter iluminação divina.

Seria injusto classificar todos os apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T. na mesma categoria, como livros falsos, heréticos e espúrios. Até porque em muitos apócrifos e pseudo-epígrafos possuem o mesmo propósito que os canônicos tiveram que é de escrever artigos para alimentar a fé de um povo específico. Algo que ilustra isso é a citação que segue em relação aos apócrifos do N.T.
Alguns estudiosos apresentam a hipótese segundo a qual uma parte da literatura apócrifa do N.T. seria superior aos livros canônicos, e os evangelhos apócrifos mais antigos seriam os inspiradores dos evangelhos canônicos.154

Alguns apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T. poderiam ter algumas partes iluminadas por Deus, onde ele teria concedido uma profunda percepção religiosa a alguns homens e mulheres piedosos. Tais percepções teriam sido usufruídas com diferentes gradações de compreensão, tendo sido registradas com misturas de idéias religiosas e crendices da ciência, comuns naqueles dias. Só porque eles não entraram no cânon não deixam de ser 'inspirados'. Neles nem tudo é fantasia.155

Alguns apócrifos e pseudo-epígrafos podem até possuir tal iluminação divina, mas tal iluminação é equivalente ao que ocorre em outras produções artísticas, como na música, na pintura, nas artes manuais e também na escrita. E esta iluminação divina pode ocorrer de duas maneiras a primeira seria exlux a luz interna que todo o ser humano tem, pois é a imagem de Deus, mesmo corrompido pelo pecado mantém um resquício dela, logo tem a capacidade de produzir algo iluminado por Deus, uma iluminação de dentro para fora e a segunda é luxaspiratio uma iluminação de fora para dentro, onde um autor poderia ter tido acesso de uma partícula da revelação de Deus, sendo assim Deus o iluminara para produzir algo inpirado.

Há uma linha muito tênue entre iluminação e inspiração, agora se estes dois conceitos da teologia são a mesma coisa cabe o leitor decidir se pode existir ou não inspiração divina em alguns apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T., a pesquisa foi realizada uma escolha ou escolhas devem ser tomadas. Qual deve ser a mais coerente?



CONCLUSÃO

Após uma síntese da história dos apócrifos e pseudo-epígrafos, a relevância dos mesmos e uma abordagem do tema principal, fica bem claro o mau relacionamento dos apócrifos e pseudo-epígrafos com a igreja contemporânea protestante, contudo tal assunto é cada vez mais popular mundialmente falando, principalmente devido a publicação de Best-sellers como O código Da vinci156 que faz alusão a alguns livros apócrifos e a mas recente publicação de um evangelho de Judas Iscariotes.157

A grande questão sobre a inspiração divina de alguns livros apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T. faz parte desde quando se começou a produzir escritos sagrados, contudo o assunto torna-se uma polêmica no concílio de Trento em 1546, isto é claro mas especificamente aos deuterocanônicos ou apócrifos do A.T.

Trazer este tema novamente ao presente século é mexer em algo que para alguns é fato encerrado, consumado. Embora para o autor desta obra já e ainda não, isto digo em relação aos canônicos, pois são inspirados por Deus, agora em relação aos apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T. não posso mudar algo de tão grande relevância, mas a minha proposta é que os mesmos tenham sua devida atenção pela igreja e não seja desconhecido ou oculto.

Enquanto a inspiração dos apócrifos e pseudo-epígrafos em realação aos livros canônicos vale manter fé que de alguma maneira o Espírito Santo levou homens ao longo dos séculos a descobrir o cânon inspirado.

A frase que diz: que a história é contada pelos vencedores é um pouco intrigante, porém esta obra pode mostrar um pouco do outro lado da história principalmente aquelas acusações pouco fundamentadas onde os apócrifos e pseudo-epígrafos foram escritos num período de 400 anos de silêncio por isso não são inspirados, isto faria com que a lista aumenta-se incluindo os livros de Crônicas, Esdras, Neemias, Jonas, Eclesiástes, Ester e o livro de Daniel que foram escritos neste período. Sem contar com outras questões como: que a segunda parte de Is não é possível sustentar que seja de Isaías, que o livro de Daniel é um apócrifo composto em 169 ou 170 a.C., a atribuição do Pentateuco a Moisés é insustentável e as acusações dos erros históricos e redacionais, a luz da crítica moderna muitos canônicos também possuem os mesmos problemas. Do que falar do erros de heresias, isto é uma boa questão contudo acusações como ensinar violência no livro de Judite, a mentira no livro de Tobias e outros é bom ser vistos à luz de uma boa interpretação.158

Muitos pais da igreja e rabinos movidos por um zelo grandioso que era necessário para sua época recomendaram que alguns livros não deveriam ser lidos, porém a postura de um estudante da bíblia deve ser diferente, pois os mesmos nos ensinam a entender melhor os canônicos. Assim como Eusébio de Cesaréia proponho uma classificação dos apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T.: Os bons para devoção, os bons para conhecimento histórico, filosófico, teológico, cultural, e os ruins que servem para aprofundar a apologética cristã. Fazendo assim é possível colocar os apócrifos e pseudo-epígrafos do A.T. na sua devida posição que é revelada e não oculta.

























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1ZOLLI, Eugenio. Guia do Antigo e Novo Testamento. p.14
2ibid.p.14
3GEISLER, Normam e NIX, William. Introdução Bíblica. Como a Bíblia Chegou até nós, p. 62-63
4ZOLLI, Eugenio.op..cit.p.15
5BENTZEN, Aege. Introdução ao Antigo Testamento. v.I, p.31
6Bíblia de Jerusalém. Neemias 8:1-3
7BENTZEN, Aege.op.cit.p.32
8ibid.p.32
9BENTZEN, Aege.op.cit.p.32-34
10ibid.p.32-34
11BENTZEN, Aege.op.cit.p.35
12BENTZEN, Aege.op.cit.pp.35-36.
13BENTZEN, Aege.op.cit.p.43
14BENTZEN, Aege.op.cit.p.37
15ibid.p.37
16ibid.p.46
17BENTZEN, Aege.op.cit.p.45
18BENTZEN, Aege.op.cit.p.44
19ECHKARDT, Tione. Introdução ao antigo testamento..p. 14.
20GEISLER, Norman e NIX, William.op.cit.p.64
21GEISLER, Norman e NIX, William.op.cit.p.64
22ibid.p.64
23ibid.p.64
24ibid.p.65
25omologoumenouv. (sem dúvida, incontestavelmente, por consetimento geral) antilegomenwv.sinal de contradição, sinal debatido.
26GEISLER, Norman e NIX, William.op.cit.pp.85-86.
27GEISLER, Norman e NIX, William.op.cit.p.88
28ibid.p.88
29ibid.p.88
30GEISLER, Norman e NIX, William.op.cit.p.89
31ibid.p.64
32ibid.p.88
33ibid.p.88
34ibid.p.115
35BARRERA, Julio trebolle. A bíblia judaica e a bíblia cristã. Introdução à história da bíblia.p.284
36GOTTWALD, Norman K. Intodução socioliterária à bíblia hebraica.p.89
37BARUCQ, A. et. al. Os escritos do oriente antigo e fontes bíblicas.p.295
38ZOLLI, Eugeno.op.cit.p.73
39ROST, Leonard. Introdução aos livros apócrifos e pseudepígrafos do Antigo Testamento e aos manuscritos de Qumran. p.59
40 ibid.p.80
41Bíblia de Jerusalem. II Macabeus 7:28
42ZOLLI, Eugenio.op.cit.pp.76-77
43ROST, Leonard.op.cit.p.70
44ECHKARDT, Tione.op.cit.p 36
45ROST, Leonard.op.cit.p.111
46PROENÇA, Eduardo de (org).Apócrifos e pseudepígrafos da Bíblia.(Segredos de Henoc 54:1-4)
47BENTZEN,Aege.op.sit.p.279
48ECHKARDT, Tione.op.cit.p 35
49ROST, Leonard.op.cit.p.114
50ROST, Leonard.op.cit.p.115
51ibid.p.116
52ibid.p.117
53ibid.p.118
54RUSSELL, D. S. Desvelamento divino. Uma introdução à apocalíptica judaica.pp.86-87
55ROST, Leonard.op.pp.124,125
56ROST, Leonard.op.cit.p.126
57ibid.pp.128-131
58ROST, Leonard.op.cit.pp.128-130
59ibid.p.131
60Russell, D. S.op.cit.p.63
61ibid.p.64
62ROST, Leonard.op.cit.p.143
63ibid.p.150
64ROST, Leonard.op.cit.pp.150-151
65ibid.pp.151,152
66BENTZEN, Aege.op.cit.pp.285-287
67ECHKARDT, Tione.op.cit.p.32
68ROST, Leonard.op.cit.p.72
69ROST, Leonard.op.cit.p.73
70ECHKARDT, Tione.op.cit.p.33
71ROST, Leonard.op.cit.p.101
72ibid.p.102
73RAMOS, Rogério (ed.). Minidicionário Luft.p209
74ROST, Leonard.op.cit.p.107
75ROST, Leonard.op.cit.p.109
76ibid.pp.107,108
77ROST, Leonard.op.cit.pp.109-110
78ibid.p.133
79ibidp.134
80ibid.p.136
81TRICCA, Maria Helena de Oliveira. Apócrifos II: Os poscritos da bíblia.p.23
82ibid.p.24
83ROST, Leonard.op.cit.p.158
84BENTZEN, Aege.op.cit.p.256
85ZOLLI, Eugenio.op.cit.pp.101-102
86ibid.pp.101-102
87ROST, Leonard.op.cit.p.64
88ibid.p.63
89ROST, Leonard.op.cit.p.63
90ROST, Leonard.op.cit.p.68
100ibid.p.69
101ibidp.69
102ibid.p.76
103ROST, Leonard.op.citp.80
104ROST, Leonard.op.cit.p.81
105ibid.p.83
106ibid.p.84
107ibid.87
108 ROST, Leonard.op.cit.p.87
110ibid.p.85
111ibid.p.87
112ROST, Leonard.op.cit.p.89
113ibid.p.92
114ROST, Leonard.op.cit.p.92
115ibid.p.93
116ECHKARDT, Tione.op.cit.p.32
117ROST, Leonard.op.cit.p.94
118ibid.p.97
119ibid.p.119
120ibid.p.121
121ROST, Leonard.op.cit.pp.121-122
122ibid.p.143
123ROST, Leonard.op.cit.pp.145-147
124ROST, Leonard.op.cit.pp.148-149
125ibid.p.158
126ROST, Leonard.op.cit.p.152
127IBID.pp.153-154
128ROST, Leonard.op.cit.p.154
129TRESMONTANT. Claude. O problema da revelação.p.44
130ibid.t.p.44
131ZUCK, Roy B.A interpretação bíblica. Meios de descobrir a verdade da bíblia.pp.60 63
132FARIA, Ernesto. Vocabulário Latino-Português.p.148
133id.ibid.p.356
134RIENECKER, Fritz e ROGERS, Cleon. Chave linguística do novo testamento grego.p.479
135GRUDEM, Wayne. Manual de teologia sistemática.p.34
136O Novo Testamento Hebraico-Português. (II Timóteo 3.16)
137Bíblia de Jerusalém.(Judas 14,15)
138HARRIS, Laird R., ARCHER, Gleason Jr.,WALTKE,Bruce K. Diocionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento.p.905
139.GEISLER, Norman e NIX, William.op.cit.p.86
140LAPERROUSAZ, E.M.Os manuscritos do mar morto.p.43
141.GEISLER, Norman e NIX, William.op.cit.p.94
142GEISLER, Norman e NIX, William.op.cit.p.94
143CRISTIANO, Paulo. Resposta aos argumentos católicos www.capc.org.br/catolicos.2005
144ibid
145143CRISTIANO, Paulo. Resposta aos argumentos católicos www.capc.org.br/catolicos.2005.op.cit

146ibid
147.GEISLER, Norman e NIX, William.loc.cit.p.95
148.GEISLER, Norman e NIX, William.op.cit.p.95
149CRISTIANO, Paulo. Resposta aos argumentos católicos www.capc.org.br/catolicos.2005.op.cit
150ibid
151CRISTIANO, Paulo. Resposta aos argumentos católicos www.capc.org.br/catolicos.2005.op.cit
152143CRISTIANO, Paulo. Resposta aos argumentos católicos www.capc.org.br/catolicos.2005.op.cit

153.GEISLER, Norman e NIX, William.op.cit.pp.96-97
154.LUIGI, Moraldi.Evangelhos apócrifos.pp.30,31
155FARIA, Jacir de Freitas. As origens apócrifas do cristianismo. Comentário aos evangelhos de Maria Madalena e Tomé.p.28
156SOUZA, Mauro. Mundo estranho. Coleção 100 respostas. O código Da Vinci.p.15
157TEIXEIRA, Jussara e STEFANO, Marcos. Eclésia. A farsa do evangelho de judas pp.30 e 31
158TRESMONTANT, Claude.op.cit.p.44